Cobrada por maior diversidade entre seus membros, a Academia Brasileira de Letras (ABL) se vê mais uma vez pressionada, agora por autores importantes da literatura brasileira contemporânea, que assinaram uma carta em apoio à candidatura (e eleição) do escritor Daniel Munduruku. Ele concorre à cadeira número 12 da instituição. A eleição acontece na próxima quinta-feira (18).
Entre os mais de cem signatários do documento, estão nomes como Alice Ruiz, Chico Buarque, Ruy Castro, Lígia Bojunga, Pedro Bandeira, Aílton Krenak, Marcelo Rubens Paiva e Xico Sá.
Uma página foi criada na internet para dar publicidade à candidatura, trazendo informações sobre a trajetória e biografia de Munduruku, a lista com suas obras e premiações, além de manifestações de apoio.
O documento em favor de Munduruku lembra que entre os 40 acadêmicos da ABL há “não apenas escritores e poetas, mas também historiadores, sociólogos, juristas, gramáticos, linguistas, economistas, filósofos e jornalistas”.
“Há, portanto, representantes da diversidade de áreas e correntes de nosso pensamento, o que, infelizmente, não se repete na diversidade de nossas etnias”, diz trecho.
Nas duas últimas semanas, a ABL elegeu Fernanda Montenegro e Gilberto Gil, em eleições vistas como acenos à cultura e à diversidade, já que mulheres (6) e negros (2) são minorias entre os imortais hoje.
Daniel Munduruku é um intelectual indígena, foi dos primeiros a escrever histórias inspiradas na mitologia e no modo de vida dos indígenas brasileiros para o público infantil, expandindo a cultura dos povos originários a todas as crianças brasileiras. É autor de mais de 50 livros infantojuvenis, alguns deles traduzidos para o alemão, coreano, inglês e espanhol.
Seus dois livros mais recentes estão entre os finalistas do Prêmio Jabuti, prêmio que venceu em 2004 e 2017. Também ganhou o Prêmio ABL de literatura Infantojuvenil, em 2008, e a Ordem do Mérito Cultural, do extinto MinC, em 2006 e 2013, além do Prêmio Vida e Obra, da Fundação Bunge, em 2018.
Confira um trecho da carta em apoio a Munduruku:
A Academia Brasileira de Letras, desde sua fundação pelo escritor Machado de Assis, se propôs a ser uma casa da cultura. Casa que abriga não apenas escritores e poetas, mas também historiadores, sociólogos, juristas, gramáticos, linguistas, economistas, filósofos, jornalistas, artistas e pessoas com outras ligações com o estudo da cultura brasileira e sua produção. Há, portanto, representantes da diversidade de áreas e correntes de nosso pensamento, o que, infelizmente, não se repete na diversidade de nossas etnias.
Num momento de destruição intencional da cultura brasileira em todas as suas formas de manifestação, é importante poder contar com instituições da sociedade civil que nos sirvam de luz e resistência. É isso o que esperamos da ABL, o abrigo da cultura brasileira e um de seus guardiões.
Por esses motivos, defendemos que ao escolher Daniel Munduruku entre seus membros, a Casa de Machado de Assis estará se tornando mais rica e forte para levar à frente sua missão. Uma casa que preserva e estimula o talento e o valor da arte e da cultura brasileiras, sem se ater a vínculos de poder e influências.