Vidraça #258

Notas sobre literatura e o mercado editorial
Fotos: Divulgação
01/10/2021

Novo do Chico
Chico Buarque publica neste mês seu primeiro livro de narrativas curtas. Anos de chumbo e outros contos narra histórias diversas cujo fio condutor é uma prosa cortante e concisa. Pontuando crítica social e uma observação arguta de um país em colapso, Chico se movimenta em um ambiente perplexo e perverso, em que a barbárie, o sexo e o delírio são os ingredientes que dão corpo ao caldo de desalento.

A vida de Frida
A Olho de Vidro lança no Brasil Uma história possível, novela da escritora mexicana María Baranda que reconta a infância e a adolescência de Frida Kahlo, um dos nomes fundamentais da cultura do século 20. Misturando ficção e fatos reais, Baranda cria um retrato dos anos de formação de Frida. A obra, recheada de uma prosa poética e cativante, tem tradução de Heloisa Jahn.

A volta do Pereira
Fora de catálogo há anos, Afirma Pereira, clássico do italiano Antonio Tabucchi, volta às livrarias, desta vez pela Estação Liberdade. Passado em Portugal, durante a ditadura de Salazar, a obra também diz muito sobre o Brasil de 2021.

Lula lá
Em novembro, o jornalista Fernando Morais publica o primeiro volume da biografia do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A obra narra a trajetória de um dos mais importantes e controversos políticos do país. Ao longo das mais de 400 páginas do volume inicial, Morais — que já escreveu sobre outras figuras importantes do Brasil — cria uma narrativa não linear para traçar o perfil de um homem complexo, que navega entre o mito e a verdade.

Kafka português
Gonçalo M. Tavares é um dos autores mais profícuos dos nossos tempos. Bucareste-Budapeste: Budapeste-Bucareste, lançado pela Oficina Raquel, narra três histórias distintas, mas que se passam justamente na fronteira das duas cidades. Em 108 páginas, o livro condensa o cotidiano sufocante de seus personagens, que tentam encontrar uma saída para o ambiente quase kafkiano em que estão inseridos.

Fábula atual
A belga Jacqueline Harpman, até então inédita no Brasil, teve seu livro Eu que nunca conheci os homens, publicado pela Dublinense. Trata-se de uma fábula distópica sobre 40 mulheres presas em uma jaula e em silêncio. Considerado um dos romances mais importantes da escritora, o livro foi publicado originalmente em 1995.

Dante em dose dupla
A Companhia das Letras publicará em novembro Dante, biografia do autor d’A Divina comédia. Escrito por Alessandro Barbero, o volume tem tradução de Federico Carotti. Chega às livrarias também Inferno, a mais fascinante e popular parte do clássico do autor italiano. A nova edição brasileira é bilíngue e tem tradução de Emanuel França de Britto, Maurício Santana Dias e Pedro Falleiro Heise.

Breves

• João Silvério Trevisan lança pela Objetiva nova edição de Seis balas em um buraco só: a crise do masculino, análise contundente dos estudos de gênero.

• Luiz Ruffato publica Manhã de sabre pela Faria e Silva, que reúne todos os poemas do autor do clássico Eles eram muitos cavalos.

• Escrever, de Marguerite Duras, acaba de chegar ao Brasil pela Relicário. Refletindo sobre os horizontes da escrita e o seu dever como artista, a obra foi lançada em 1993, pouco antes de Duras falecer, aos 82 anos.

Guimarães Rosa terá suas novelas publicadas em um box lançado pela Global. Ao todo, são três volumes com textos de apoio e que somam quase 700 páginas.

• Martinho conta Noel, que sai pela Lazuli, narra vida do compositor de Com que roupa pela ótica de Martinho da Vila. O livro, de apenas 32 páginas, é breve como foi a vida de Noel Rosa.

Jonatan Silva

É jornalista e escritor, autor de O estado das coisas e Histórias mínimas.

Rascunho