Em seu mais recente livro, o jornalista e crítico musical Pedro Alexandre Sanches conta como se deu a transição da produção fonográfica brasileira, no início dominada pelos singles, para o padrão do long play (LP). A obra sai em formato de ebook.
Publicado pela Edições Sesc, Álbum 1 — 1950 a 1972: saudade, bossa nova e as revoluções dos anos 1960, o livro revela as raízes da indústria fonográfica brasileira e como ela se estabeleceu, pouco após a sua “fundação”, no final do século 19, sob o modelo de singles, ou seja, a oferta de canções avulsas em compactos de 2 ou 4 composições.
Nesse cenário, nomes como o de Carmen Miranda, seguido por gente do quilate de Pixinguinha, Donga e Olando Silva, sustentaram sucessos em sequência. Os “bolachões” de 12 polegadas, trouxeram o modelo do long play, álbuns de maior duração que estabeleciam uma narrativa, um recorte de períodos em que influências musicais e um determinado sentimento davam a tônica à vida de intérpretes e compositores.
O real estabelecimento do modelo de álbum veio no final dos anos 1950 e teve um grande aliado: a bossa nova. João Gilberto crava o nome na história com Chega de saudade e alguns primeiros nomes do rock aparecem, representados por Roberto Carlos.
No decorrer daquele período muitos artistas de peso gravaram grandes discos, com domínio desses gêneros musicais, mas com abertura para a formatação da MPB sob a batuta de Nara Leão, Wilson Simonal e outros.
Esse movimento abriu as portas para mais um dos aclamados movimentos artísticos brasileiros do século, com grande influência na música: a tropicália. Se um álbum pode representar a abertura dessa nova fase, esse é Tropicália ou Panis et circensis (1968), que bota pra fora toda a repressão exercida pelo governo militar no auge de sua atuação. Estoura nesse período o alcance dos festivais, que consagrou nomes como Geraldo Vandré e seu Canto geral, que culminaria, mais tarde, na sua messiânica canção “Pra não dizer que não falei das flores”.
O livro avança ainda para o período em que a música brasileira entrou de cabeça no black power, com a ascensão de figuras como Tim Maia, além da miscelânea proposta pelo clube da esquina, de Milton Nascimento e cia. Mais adiante, a obra resvala na moda, entre 1970 e 1972, do estilo conhecido como “samba joia”, encabeçado pelos Originais do Samba. O autor fez uma playlist do livro, disponível aqui.
Pedro Alexandre Sanches, paranaense, é jornalista em São Paulo desde 1994. Trabalhou como redator, repórter e crítico musical na Folha de S.Paulo (1995-2004) e como subeditor e repórter na CartaCapital (2005-2009).
É autor dos livros Tropicalismo: decadência bonita do samba (Boitempo, 2000) e Como dois e dois são cinco: Roberto Carlos (& Erasmo & Wanderléa) (Boitempo, 2004). Foi editor-colaborador de cultura para a CartaCapital e segue trabalhando no site Farofafá.