Certo dia, por conta de “uma infecção nos pĂ©s”, o colo que sempre esteve ali se vai para sempre — e resta um rombo no peito, que talvez possa ser preenchido pela literatura. A partir da morte de sua mĂŁe, que partiu em fevereiro de 2020, aos 93 anos, a colunista do Rascunho Noemi Jaffe cria uma narrativa a fim de compreender a ausĂŞncia permanente e o que essa condição, inevitável mas doĂda, traz consigo. Para dar conta de uma temática tĂŁo delicada, a autora de O que ela sussurra (2020) e NĂŁo está mais aqui quem falou (2017) nĂŁo esconde reflexões as mais perturbadoras e cava fundo nas lembranças de uma pessoa que sobreviveu ao Holocausto e foi mĂŁe viĂşva de trĂŞs filhas. “À medida que escreve para combater o luto, Noemi torna mais e mais palpável a presença da mĂŁe, recĂ©m-falecida. E quando o leitor vira a Ăşltima página, o coração de Lili bate para sempre. Um livro tĂŁo comovente que chega a doer”, escreve Joca Reiners Terron sobre a obra.