O desejo de ser escritora acompanha Eliana Alves Cruz desde os 11 anos de idade, pelo menos, quando registrou essa vontade em um diário. Após lidar com as palavras por muito tempo como jornalista, seguiu também para o caminho da ficção — sem deixar de lado a veia investigativa, como sugere seu primeiro livro, e sempre acompanhada da música ideal para entrar no “clima” da história em que está trabalhando. Estreou na literatura em 2016, com Água de barrela, um romance que recupera 170 anos de sua história familiar. O crime do Cais do Valongo (2018) e Nada digo de ti, que de ti não veja (2020) são suas publicações mais recentes.
• Que leitura é imprescindível no seu dia a dia?
Sou jornalista, então leio notícias todo dia, toda hora. É um vício.
• Se pudesse recomendar um livro ao presidente Jair Bolsonaro, qual seria?
Raízes do conservadorismo brasileiro, de Juremir Machado da Silva.
• Quais são as circunstâncias ideais para escrever?
No mundo ideal, com um computador que funcione, de dia, com minha trilha sonora escolhida.
• Quais são as circunstâncias ideais de leitura?
Com as tarefas todas em dia, para que outros pensamentos não fiquem rodando em segundo plano, na rede da minha casa.
• O que considera um dia de trabalho produtivo?
Quando consigo conciliar e cumprir minhas metas de escrita e burocráticas sem atrasos.
• O que lhe dá mais prazer no processo de escrita?
Criar os personagens.
• Qual o maior inimigo de um escritor?
O medo de desagradar.
• O que mais lhe incomoda no meio literário?
Preconceito linguístico.
• Um autor em quem se deveria prestar mais atenção.
Miriam Alves.
• Um livro imprescindível e um descartável.
Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus, é imprescindível. Descartáveis são os livros de autoajuda. Os processos de cura são complexos. Ninguém detém uma fórmula.
• Que defeito é capaz de destruir ou comprometer um livro?
Na ficção, didatismo excessivo. Na não ficção, não citar fontes e referências.
• Que assunto nunca entraria em sua literatura?
Não consigo apontar, ou melhor, não devo. Excluir a possibilidade de algum tema é engessar a própria criatividade.
• Qual foi o canto mais inusitado de onde tirou inspiração?
Um vestido de noiva pendurado nas grades do Campo de Sant’Ana, no Rio de Janeiro.
• Quando a inspiração não vem…
Quando estou com muito sono ou fome.
• Qual escritor — vivo ou morto — gostaria de convidar para um café?
Toni Morrison.
• O que é um bom leitor?
Aquele que lê nas entrelinhas
• O que te dá medo?
Morrer e deixar alguma obra inacabada.
• O que te faz feliz?
Estar com as pessoas que amo, entrar no mar em um dia de sol, brincar o carnaval, viajar.
• Qual dúvida ou certeza guiam seu trabalho?
Tenho certeza de que a experiência de ser uma mulher negra vai guiar tudo o que eu escrever, mesmo que não esteja diretamente falando sobre questões de gênero ou de raça.
• Qual a sua maior preocupação ao escrever?
Escrever o que me interessa, sem estar guiada pelas expectativas externas.
• A literatura tem alguma obrigação?
Na minha opinião, o único compromisso deve ser com a honestidade intelectual.
• Qual o limite da ficção?
A coerência.
• Se um ET aparecesse na sua frente e pedisse “leve-me ao seu líder”, a quem você o levaria?
Ao mar, onde mora Iemanjá.
• O que você espera da eternidade?
Que nos permita relativizá-la.