A 38ª edição da serrote, revista de ensaios do Instituto Moreira Salles, que chega às livrarias neste mês, tem como destaque ensaios que abordam questões relacionadas ao tráfico negreiro e ao racismo estrutural brasileiro.
A publicação será lançada no dia 28 de julho (quarta-feira), às 18h, em uma live transmitida pelo canal de YouTube do IMS e pelo Facebook da serrote. Na ocasião, haverá um debate com a historiadora Ynaê Lopes dos Santos e o artista Arjan Martins, mediado pela jornalista Fabiana Moraes.
Ynaê Lopes dos Santos descreve o racismo estrutural da sociedade brasileira no ensaio Um pouco de navio negreiro, um dos destaques da edição. As heranças do colonialismo também são abordadas no ensaio da artista e escritora cubano-americana Coco Fusco. A autora reflete sobre a necessidade dos museus, principalmente os europeus, questionarem a formação de seus acervos, repatriando artefatos saqueados aos seus países de origem.
“A tão discutida cena de Pantera negra em que dois personagens roubam um machado de Wakanda exposto em um museu britânico fictício popularizou a discussão em torno da pilhagem europeia dos tesouros africanos. […] Mas o espinhoso processo de descobrir o que fazer com o saque das guerras coloniais, distribuído por centenas de coleções públicas e privadas na Europa e na América, ainda não se resolveu”, escreve a artista. O ensaio é acompanhado pela série The undiscovered amerindians, realizada pela autora em 2012.
Milícias
Outro destaque deste número é o texto República Federativa de Rio das Pedras, de Bruno Paes Manso. O jornalista atualiza os argumentos do seu livro A república das milícias, publicado pela Todavia, para refletir sobre o Brasil atual. O autor defende que as práticas e ideias milicianas, modelo de crime organizado forjado no Rio de Janeiro, se tornaram o fundamento da extrema direita brasileira, eleita em 2018.
As tensões que rondam o governo em Brasília, vistas sob a óptica do cotidiano, são abordadas no ensaio Não ver, de Ilana Feldman. Em formato de diário, a pesquisadora alterna textos e fotografias de sua autoria. Recém-mudada para a capital do país, Feldman reflete sobre temas como a atual situação política, a arquitetura de Brasília e as incertezas da pandemia.
Espaço urbano
A serrote #38 traz também o texto Reivindicar a cidade sem forma, do arquiteto Otavio Leonidio (1965). O pesquisador escreve sobre a potência de iniciativas de ocupação do espaço urbano que, ao questionarem as formas de controle do Estado, propõem novas maneiras de habitar a cidade. Com referências que vão da arquitetura à arte contemporânea, Leonidio faz uma reflexão sobre a relação espaço/tempo.
Outro destaque é o ensaio O túmulo de Alice B. Toklas, do escritor e historiador americano Otto Friedrich (1929-1995). O autor traça um perfil de Toklas, companheira da famosa poeta Gertrude Stein, iluminando a generosidade e a inteligência de uma personagem muitas vezes esquecida. O texto é acompanhado por desenhos da ilustradora Maira Kalman, produzidos para uma recente edição ilustrada do clássico A autobiografia de Alice B. Toklas, de Stein.
A revista publica ainda um trecho do novo livro do historiador da arte Rafael Cardoso,Modernity in black and white, inédito no Brasil. Às vésperas do centenário da Semana de 1922, o pesquisador defende que os marcos do modernismo seguem tributários a uma concepção elitista.
“Os grandes nomes do nosso cânone derivam quase exclusivamente das esferas de literatura, arquitetura, arte e música eruditas, enquanto modernismos alternativos que brotaram da cultura popular e de massa são esquecidos ou ignorados.”
O ensaio visual desta edição é assinado pelo ilustrador e quadrinista Eloar Guazzelli. Em Cidade nanquim, o artista apresenta fragmentos de uma cidade imaginária, que vem desenhando em folhas A4 desde 1990. A publicação traz ainda obras de Arjan Martins, Camila Soato, Sheyla Ayo e Ricardo Basbaum.