Não há incompatibilidade entre escrever e ensinar. Muito pelo contrário: os exemplos mostram que há um diálogo rico e constante entre os dois ramos, que há um aproveitamento de uma atividade pela outra. Na literatura brasileira contemporânea há uma série de escritores que têm ou tiveram vínculo com a universidade. Silviano Santiago, Milton Hatoum, Cristovão Tezza, Nelson de Oliveira, Maria Esther Maciel, Affonso Romano de Sant’Anna, Gilberto Mendonça Teles, Ariano Suassuna, Aleilton Fonseca, Antonio Carlos Secchin, Sylvia Cyntrão, Luís Augusto Fischer, Amador Ribeiro Neto, Adriano Espínola, Sérgio de Castro Pinto, Marcus Vinícius Freitas, Tércia Montenegro, Moreira Campos (grande mestre do conto, infelizmente já falecido), Luzilá Gonçalves, Carlos Gildemar Pontes — todos criadores e professores universitários. Todos, de algum modo, também se prepararam para o ato da escrita com a sua atividade de ensino. Todos, de algum modo, souberam canalizar para a ficção, para a poesia, as informações obtidas no empenho analítico/crítico. Na universidade aprendemos a nos aprofundar nas obras, nos esforçamos para analisá-las. Tem sido assim. Com altos e baixos, uns com mais, outros com menos talento — tem sido assim. E creio que temos contribuído bastante para a interpretação de ficcionistas e poetas. Nós, escritores que atuamos na universidade, o que aprendemos na prática analítica não raro se torna material importante na hora da criação literária. O que aprendemos de teoria e de crítica literária não raro nos instrumentaliza na hora de escrever o romance, o conto, o poema. São informações, reitero, que recuperamos ao produzir o texto literário. O escritor que atua na universidade tem, grosso modo, dupla prática. Uma, de estimular e preparar leitores. Outra — e porque tem necessidade de criar — de saber manejar, sem parecer inconsistente ou mesmo incompetente, o material crítico/teórico com que trabalha. Não podemos fazer feio na hora de escrever. E a tarefa de preparar jovens leitores, o público por excelência do professor universitário? O que dizer àqueles jovens interessados em saber sobre o quê e o como o escritor professor lê? Tentarei responder essas questões na próxima coluna.