Poemas de Jorge Figueroa

Leia os poemas "sem titulo"
01/03/2010

Tradução: Ronaldo Cagiano

ela sabia do arco-íris
falava-lhe dos sete mares
ele a convidava a ver os trens
lhe presenteava com pipas

ela sabia do sol e das maçãs
dos caminhos que levam a roma
ele odiava as gaiolas
as árvores secas

a noite de sonhos despidos
os uniu
com gritos de diamantes

formigas e uvas
no bar do alberto
feijão na cabeça da mesa
marcam a sorte pelas costas

dorme-se à noite
com fósforos e chamamé
espanto e magia

murmúrio de surpresa
em lábios fronteiriços
rodeados pelo ruído dos passos

a sola do sol me pisa
um cão observa o coração estilhaçado
sobre um assento rasgado

cordas de loucura
em lugar de quê?

gritam despojos em terra muda
os quatro ventos e suas promessas
devoram noites
avançam
com violinos ao ombro

mãos de sal em espelhos quebrados
encontraram ouvidos com seu verbo machucado
asas de areia
desgarradas
simulam infortúnios

a sola do sol me pisa
não dói
beijo na boca
o ramalhete de nuvens
que me guarda

pela rodovia
vou ao teu universo
para alegrar-me
e deixar para trás dias assassinos

enquanto girassóis
bebem de minha alma
lágrimas amarelas

celebro o ruído
das aves batendo asas

deixo cair a cinza
no olho de vidro
a rádio esfrega notícias
tudo é assim
sempre

sobre um ventre solitário
esqueço que dia é

em que harmônico ponto iniciarei a volta?

na casa fragmentos de risos
pendem da cauda do inverno
hoje o mundo se parece com você

Jorge Figueroa
Nasceu em 1956, em Santiago del Estero (Argentina) e vive em Buenos Aires. É poeta e músico, tendo publicado os livros Ruidos pasajeros (2006) e Silencio abierto (2008). Integrante do grupo literário La panaderia, edita a revista La escalera.
Ronaldo Cagiano

Nasceu em Cataguases (MG). Formado em Direito, está atualmente radicado em Portugal. É autor de Eles não moram mais aqui (Contos, Prêmio Jabuti 2016), O mundo sem explicação (Poesia, Lisboa, 2018), Todos os desertos: e depois? (Contos, 2018) e Cartografia do abismo (Poesia, 2020), entre outros.

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