Considerado por Milan Kundera o maior escritor de sua geração, Danilo Kiš volta a ser publicado no Brasil após um longo hiato. Seu livro Homo poeticus, uma reunião de ensaios e entrevistas, ganha edição pela Âyiné, com tradução direta do servo-croata feita por Aleksandar Jovanović.
Nascido na antiga Iugoslávia, em 1935, Danilo Kiš perdeu parte de sua família nos campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial. A morte de seu pai em Auschwitz teve grande impacto em sua literatura, principalmente na construção de personagens em seus romances Amarguras precoces, Clepsidra e Jardim, cinzas, o último publicado no Brasil, em 1986.
Homo poeticus reúne textos que abordam nacionalismo, censura e, sobretudo, literatura. Kiš dedica páginas a Jorge Luis Borges, Gustave Flaubert, Vladimir Nabokov, Marquês de Sade, entre outros nomes, além de elencar Conselhos a um jovem escritor.
Em um dos ensaios que compõem a edição, Censura/autocensura — publicado em 1985 —, o autor discorre sobre como a censura procura “destacar sua própria legitimidade ao mesmo tempo que busca camuflar sua própria negação” e a respeito da natureza da autocensura, que ele caracteriza como a “leitura do próprio texto com olhos alheios”.
A temática do nacionalismo se faz presente em Variações sobre temas da Europa Central e em entrevistas. Ao todo, são nove ensaios e 17 entrevistas, incluindo uma concedida a Leda Tenório da Motta em novembro de 1986, publicada no caderno Folhetim, da Folha de S.Paulo.
Durante os anos que passou na França, Kiš se dedicou à escrita e tradução, além de ter sido professor de literatura na universidade de Bordeaux. Seus livros foram exaltados por grandes nomes da literatura mundial, como Joseph Brodsky e Susan Sontag. A ensaísta americana foi responsável pela edição de Homo poeticus nos EUA. Kiš morreu em outubro de 1989, aos 54 anos.