O que me dizem os seus olhos? Quando os vejo, serenos à flor da vista, imagino-os revoltosos por dentro, numa briga constante, como se pelo menos por uma vez os olhos não fossem espelhos de alma alguma, e ao mesmo tempo todas elas em unÃssono. Como se o que visse e o que de fato existisse, por dentro, fossem dois espelhos que se renegam como Ãmã de polos iguais quando os tentamos aproximar: quase se tocam, mas que igualmente se repelem. É neste hiato, que está presente, que sinto que há um algo mais, invisÃvel aos olhos.
O que me dizem os seus olhos, apesar de sentir que a conheço de muito longe, de uma qualquer querida personagem que passeava pela porta sempre aberta lá de casa, é que a sua poesia, que me enreda (e quem diz poesia diz desta trama prosaica que também é sinônimo de poesia), diz-me sempre algo que não consigo capturar, faça as leituras que fizer, registre com a minha máquina fotográfica os instantâneos que se me proporcionarem. Todas estas leituras serão incompletas.
Todas estas sensibilidades versarão sobre mistérios que, quando muito, as poderei imaginar em quebra-cabeças infindáveis próximos aos meus, de uma terra distante onde o cheiro da chuva por sobre a terra seca se assemelha, mesmo que a sua HuÃla e o meu Rio de Janeiro estejam distantes e diversos.
O que me dizem os seus olhos talvez mais não sejam do que uma ancestralidade que, por mais que a queiramos libertá-la de dentro de nós, é tarefa inglória. O que vejo, Ana Paula Tavares, é o pertinente dilema da incapacidade da palavra de alcançar tudo o que nos vai no código genético sentimental, e a beleza reside neste retrato que nunca será traduzido de forma completa.
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