🔓 Lionel Shiver imagina fim da hegemonia americana em nova ficção

“A família Mandible: 2029-2047” é ambientado nos Estados Unidos, que vive situação de penúria, com racionamento de água e inflação galopante
Lionel Shriver, autora de “A família Mandible: 2029-2047”
18/03/2021

O hipotético fim da  hegemonia global dos Estados Unidos é o mote do novo romance da norte-americana Lionel Shriver. Em A família Mandible: 2029-2047, ela lança um olhar sagaz sobre a sociedade norte-americana contemporânea, em uma narrativa definida pelo jornal britânico The Guardian como “um retrato profundamente assustador do quão depressa o status quo desmoronaria sem o dinheiro lubrificando as engrenagens”.

Com a lembrança do colapso quase total do sistema financeiro internacional em 2008, a escritora ambienta o romance em um Estados Unidos em situação de penúria, com racionamento de água e inflação galopante.

A distopia tem início em 2029, ano em que uma guerra fria de escala mundial reestrutura a ordem socioeconômica do planeta, criando novos eixos de poder. A União Europeia se desfaz, a China enfim é alçada ao posto de maior potência econômica mundial e, da noite para o dia, o dólar despenca. Além do valor, perde também seu prestígio: o bancor, uma nova moeda internacional, chega para substituí-lo.

Em entrevistas, a autora afirma que tentou reforçar o que é viver com uma moeda cujo valor está em queda livre, mas quis que a história continuasse ficcional. Ela ressalta que está “de fato aterrorizada com a possibilidade de a trama escapar do papel e saltar para a vida real. Estou preocupada, a única coisa que fiz de errado foi situar o romance no ano de 2029. É provável que uma crise envolvendo o valor do dólar ocorra muito antes”, diz a autora do best-seller Precisamos falar sobre o Kevin, que inspirou filme homônimo estrelado por Ezra Miller.

No novo romance, Shriver narra a saga de quatro gerações de uma família norte-americana outrora próspera mergulhada no colapso econômico dos Estados Unidos. Florence Mandible sofre as consequências desse cenário como uma típica moradora de classe média do Brooklyn. Uma cabeça de repolho custa 20 dólares e o ritual matinal não inclui mais café — a mudança climática arruinou as safras — nem o The New York Times, que, junto com todos os jornais, deixou de existir. Caucasiana em uma América onde os latinos se tornaram o grupo étnico dominante, Florence lembra da própria desgraça sempre que uma voz robótica ao telefone instrui: “Pressione um para espanhol e dois para inglês”.

Lionel Shriver nasceu em 1957, na Carolina do Norte, Estados Unidos. Formada e pós-graduada pela Universidade de Columbia, é autora dos best-sellers Precisamos falar sobre o Kevin — vencedor do Prêmio Orange — e O mundo pós-aniversário, além de outros livros, como Dupla falta, Tempo é dinheiro, Grande irmão e A nova república. Como jornalista, já foi colaboradora de veículos como The Guardian, The Wall Street Journal, The Independent e a revista The Economist.

A família Mandible: 2029-2047
Lionel Shriver
Trad.: Vera Ribeiro
Intrínseca
448 págs.
Rascunho

Rascunho foi fundado em 8 de abril de 2000. Nacionalmente reconhecido pela qualidade de seu conteúdo, é distribuído em edições mensais para todo o Brasil e exterior. Publica ensaios, resenhas, entrevistas, textos de ficção (contos, poemas, crônicas e trechos de romances), ilustrações e HQs.

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