Vidraça #251

Notas sobre literatura e o mercado editorial
Reprodução
24/02/2021

Proust inédito
Devem ser publicados ainda neste ano os primeiros textos inéditos de Marcel Proust em várias décadas. As páginas, escritas em 1908, integrariam mais tarde o que viria a se tornar a obra máxima do escritor francês, Em busca do tempo perdido. O anúncio foi feito em fevereiro pela Gallimard, uma das casas editoriais mais importantes da França. Por enquanto, não há previsão de que o livro seja traduzido no Brasil.

Baleias voadoras
A Dublinense lança na segunda quinzena deste mês Nem todas as baleias voam, romance do português Afonso Cruz, autor do monumental Vamos comprar um poeta. Em plena Guerra Fria, a CIA cria um plano, batizado de Jazz Ambassadors para cativar a juventude do leste europeu para a causa americana. Nesse cenário distópico e real conhecemos Erik Gould, um pianista talentoso cuja mulher desaparece misteriosamente.

Variações sobre o mesmo tema
Está previsto para chegar às livrarias inglesas neste mês o novo romance de Kazuo Ishiguro, Nobel de Literatura em 2017. Klara and the sun se debruça sobre um “um amigo artificial” e suas reflexões acerca da humanidade e do amor. Ainda sem maiores detalhes, a obra tem um diálogo possível com Máquina como eu, de Ian McEwan.

Medo d’água
A Olho de Vidro, especializada em obras infantojuvenis, acaba de publicar O sopro do leão, de Marcos Bagno, ilustrado por Simone Matias. Com um texto poético e simples, a narrativa conta a história do pequeno Leo, um menino que descobre a partir do medo que tem d’água a importância de superar os desafios e as perdas que aparecem em seu caminho.

Novo Delillo
A Companhia das Letras publicará The silence, livro mais recente do norte-americano Don Delillo, autor de, entre outros romances, Cosmópolis, que virou filme nas mãos de David Cronenberg. O romance, que deve ter tradução de Paulo Henriques Britto, conta a história de um grupo de amigos em Nova York durante uma grande crise tecnológica.

Inspiração em falta
A Companhia das Letras também colocou nas livrarias, ainda em fevereiro, uma das obras mais importantes do Nobel Kenzaburo Oe, Morte na água. No romance, Oe conta a saga de Kogito Chōkō, um autor em busca de inspiração para o seu próximo livro. Combinando uma prosa sutil e a capacidade de descrever as nuances da natureza humana, o autor de Uma questão pessoal cria uma obra que flutua entre a ficção e a memória.

Em alta
Julia Quinn, autora norte-americana cuja obra inspirou Os Bridgertons, série da Netflix, figura na lista de mais vendidos do site PublishNews, especializado no mercado editorial. Ao todo, são oito livros de Quinn entre as 20 primeiras posições, somando quase seis mil exemplares vendidos somente na primeira semana do mês passado.

Breves

• Sai em abril a biografia de Philip Roth, escrita por Blake Bailey e intitulada Philip Roth: the biography.

• Segundo pesquisa do IBGE, o setor varejista de livros, jornais, revistas e papelaria caiu 80% no mês de dezembro de 2020, a maior queda do ano passado.

• A Global publica nova edição de O burrinho pedrês, obra de Guimarães Rosa que reflete sobre a importância do trabalho coletivo.

• A Saraiva, em recuperação judicial desde 2018, fechou o ano de 2020 com prejuízo de R$ 28 milhões.

• Rachel Cusk lança em maio o último volume da trilogia iniciada com Esboço e Trânsito, ambos publicados no Brasil pela Todavia.O livro, chamado Second place, ainda não foi anunciado por aqui.

Jonatan Silva

É jornalista e escritor, autor de O estado das coisas e Histórias mínimas.

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