🔓 Ninguém segura esse Brasil!

Estamos indo ladeira abaixo, em desabalada carreira – e isso desde 2014, quando a oposição começou a conspirar para derrubar o governo de Dilma Rousseff
Ilustração: FP Rodrigues
05/02/2021

Querido leitor (a), você ficou, eu fiquei, todos ficamos abalados com a notícia do encerramento das atividades da Ford no Brasil, anunciada como uma espécie de presente de ano novo para o governo do, Deus que me perdoe, Jair Bolsonaro. Então, convido você a acompanhar os dados abaixo compilados, para observar que há seis anos estamos descendo a ladeira em desabalada carreira:

1) Entre 2015 e 2020, foram extintas 36,6 mil fábricas, o que equivale ao encerramento das atividades de 17 estabelecimentos industriais por dia. Segundo a série histórica, iniciada em 2002, até 2014 o número de fábricas crescia…

2) O número de famílias em extrema pobreza cadastradas nos programas sociais do governo federal superou, no ano passado, a casa de 14 milhões – o que equivale a 39,9 milhões de pessoas –, alcançando o maior contingente desde 2014, quando o Brasil comemorou a saída do Mapa Mundial da Fome.

3) A taxa de desemprego chegou a 14,3% no ano passado, atingindo 14,1 milhões de pessoas. O número de empregados sem carteira assinada chegou a 9,5 milhões, os autônomos 22,5 milhões, e os informais, 32,7 milhões. Em 2014, o Brasil registrou a menor taxa de desemprego já registrada, 4,8% do total dos trabalhadores economicamente ativos, o que significa que, pela primeira vez em nossa história, tivemos o que se denomina pleno emprego.

Esses são números frios, sensível leitor (a), e referem-se apenas a um aspecto da economia. Por trás de cada número há um rosto, uma história, um sonho…

Ah, só para lembrar – que aqui neste país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza, temos a memória comprometida por tanto sal, e céu, e sol – 2014 marca a eleição de Dilma Rousseff para cumprir seu segundo mandato, aquela eleição que os tucanos, liderados pelo probo ex-senador Aécio Neves, secundados pelos patriotas de camisa verde-amarela e fundamentalistas cristãos, e patrocinados pela grande mídia, nunca engoliram. Os dois anos de mandato de Dilma, interrompidos pelo bizarro golpe parlamentar – aquele crime que ela cometeu, como era mesmo?, os eméritos juristas Miguel Reale Junior e Janaína Paschoal devem recordar, aquele troço, ah, vocês sabem, né? –, foram completados por outro grande jurista, Michel Temer, lembra dele?, sucedido pelo, Deus que me livre e guarde, Inominável. Este, por sua vez, chegou onde está, nunca é demais chamar a atenção, com o voto de 58 milhões de eleitores e a conivência de outros 42 milhões (que votaram em branco, anularam ou nem se deram ao trabalho de se dirigir às urnas).

Como escreveu o grande vate português, Luís de Camões, em sua epopeia, Os lusíadas, “um fraco Rei faz fraca a forte gente” – está no Canto III, estrofe 138, confere lá.

Luz na escuridão
José Santos, poeta, autor de literatura infantil e juvenil: “Estou envolvido em um projeto muito interessante. Se chama Mapa da Poesia, feito com a designer e ilustradora Iêda Alcântara. Ideia antiga, essa coleção de livros (impressos e digitais), voltada para crianças e jovens, já tem dois livros com temática portuguesa no prelo (ainda se fala assim?) e mais uma lista de candidatos a serem mapeados, entre Minas Gerais e África. A Iêda cuida do projeto gráfico, capa e ilustrações. Eu faço os poemas, as notas e glossário, como foi o caso do volume 1, Portugal, que será lançado neste semestre. No volume 2, Lisboa, divido os poemas com o escritor português, Alexandre de Sousa. A mineira Iêda vive em Lisboa há seis anos e conseguiu traduzir muito bem essas variadas paisagens. O terceiro livro irá mostrar uma cidade de Minas, da Zona da Mata, chamada Juiz de Fora”.

Parachoque de caminhão
“O ridículo é uma espécie de lastro da alma quando ela entra no mar da vida; algumas fazem toda a navegação sem outra espécie de carregamento.”
Machado de Assis (1839-1908)

Antologia pessoal a poesia brasileira
Alvarenga Peixoto
(Rio de Janeiro, RJ, 1742 – Ambaca, Angola, 1792)

Soneto

Eu não lastimo o próximo perigo,
Uma escura prisão estreita, e forte,
Lastimo os caros filhos, a consorte,
A perda insuperável dum amigo.

A prisão não lastimo, outra vez digo
Nem o ver iminente o duro corte;
É ventura também achar a morte,
Quando a vida só serve de castigo.

Ah! quão depressa então eu não sentira
Este enredo, este sonho, esta quimera,
Que passa por verdade, e que é mentira.

Se filhos, e Consorte não tivera,
Se do amigo as virtudes possuíra
Só de vida um momento não quisera.

Luiz Ruffato

Publicou diversos livros, entre eles Inferno provisório, De mim já nem se lembra, Flores artificiais, Estive em Lisboa e lembrei de você, Eles eram muitos cavalos, A cidade dorme e O verão tardio, todos lançados pela Companhia das Letras. Suas obras ganharam os prêmios APCA, Jabuti, Machado de Assis e Casa de las Américas, e foram publicadas em quinze países. Em 2016, foi agraciado com o prêmio Hermann Hesse, na Alemanha. O antigo futuro é o seu mais recente romance. Atualmente, vive em Cataguases (MG).

Rascunho