Pela margem (4)

Quem são e como sobrevivem as micro e pequenas editoras brasileiras; nesta edição, Vieira & Lent, Aeroplano e Grua
01/08/2010

Vieira & Lent
Em 2002, Cilene Vieira e Roberto Lent resolveram unir suas experiências e fundaram a empresa que carrega seus sobrenomes: ela, ex-editora das publicações da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência); ele, neurocientista com reconhecimento internacional, membro da Academia Brasileira de Ciências e diretor do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ, além de autor de diversos livros em sua área de especialização. Segundo o gerente comercial, Flávio Mello, a editora vem crescendo de forma sólida, buscando construir um catálogo com títulos que permaneçam no mercado por muitos anos, os chamados long sellers. A Vieira & Lent (Rio de Janeiro • www.vieiralent.com.br) conta hoje com 70 títulos em diversos gêneros, como divulgação científica, ciências humanas, literatura, crítica-literária e infanto-juvenil, uma média anual de 10 novos títulos com tiragens de dois mil exemplares.

Os livros que deram maior projeção à editora foram Cérebro nosso de cada dia, de Susana Herculano Housel; Desconstruir Duchamp, do poeta e crítico Affonso Romano de Sant’Anna; Arte de esquecer, de Iván Izquierdo; Ouvindo vozes, de Edmar Oliveira; e a coleção Aventuras de um neurônio lembrador, de Roberto Lent, entre outros. Além disso, também proporcionaram visibilidade à editora o livro de poemas de Elizabeth Hazin, Martu, e o infantil A história dos Três Pontinhos, de Solano Guedes.

Mello explica que a editora aceita examinar originais de autores brasileiros, em diversos segmentos (romances, divulgação científica, infantis e ensaios de ciências humanas), que, caso aprovados, são bancados inteiramente pela editora. Os próximos títulos previstos são Florinha na Terra dos Rinocefantes — A ecologia da cordialidade e o aquecimento global, história em quadrinhos de Sergio Bruni, com a colaboração de sua filha Florinha (ilustração e roteiro de Flávio Dealmeida); a coleção Microfamília, Livro 1: Fungos — Dudu e o professor Aspergilo, de Alane Beatriz Vermelho com ilustrações de João Müller Haddad; e Nada como ter classe — Sobre a elegância no País da Gramática, de Marô Barbieri; além da reimpressão de Caio Zip: Enigmat, Que bicho é esse, de Regina Gonçalves e A arte de esquecer, de Iván Izquierdo.

Aeroplano
Fundada pela crítica literária e uma das maiores autoridades em cultura brasileira da atualidade, Heloísa Buarque de Hollanda, a Aeroplano (Rio de Janeiro • www.aeroplanoeditora.com.br) não é, como explica ela, exatamente uma editora, mas uma empresa que faz projetos editoriais. “Temos uma idéia, corremos atrás de patrocínio. Alguns vêm por demanda, mas já financiados ou em busca de financiamento.” Heloísa argumenta que quando fundou a editora, pensou em organizá-la em torno de tendências editoriais e com perfil gráfico bem diferenciado, tanto das edições de luxo, quanto das edições mais comerciais. Exemplo dessa busca é a coleção Tramas Urbanas, que já conta com 20 títulos e projeta outros 10, já com apoio estabelecido pela Petrobras. “É uma coleção cujos autores são os protagonistas dos principais projetos culturais da periferia de vários estados.” Hoje, a editora tem 144 títulos em seu catálogo, com tiragens médias entre 1 mil e 3 mil exemplares. “Como nosso perfil é de projetos editoriais, publicamos ficção e poesia só eventualmente. E não costumamos considerar originais.” Além disso, a editora não banca edições, pretende ter um crescimento médio a longo prazo e desenvolve, paralelamente, muitos projetos nas áreas de exposições, seminários e eventos, todos apontando para tendências culturais e questões emergentes. “O projeto ao qual pensamos nos dedicar agora é a entrada no mercado dos e-readers e impressão sob demanda”, explica Heloísa. A Aeroplano conta com mais três sócios: os livreiros Elisa Ventura e Ruy Campos e o cineasta Lula Buarque, filho de Heloísa.

Grua
Em julho de 2008, Carlos Eduardo de Magalhães fundou a Grua Livros (São Paulo • www.grualivros.com.br), lançando Terra sem mapa, do crítico uruguaio Angel Rama. Até o final deste ano, serão 16 livros em catálogo, entre prosa de ficção e livros de história, principalmente, com média de 6 novos títulos por ano, e tiragem média de 1,2 mil a 1,5 mil para ficção nacional e 2 mil exemplares para traduções. Os títulos que mais deram projeção à editora até agora foram História da polidez, de Frédéric Rouvuillois; Ciranda de nós, de Maria Carolina Maia; A ponta, de Charles D’Ambrosio; Pitanga, de Carlos Eduardo de Magalhães; Terra sem mapa, de Ángel Rama; Os Inomináveis, de Hansjörg Scheteinleib e A travessura do Canal da Mancha, de Ana Mesquita. Embora a editora banque totalmente a edição, no momento, segundo Magalhães, devido ao fato de contar apenas com uma equipe pequena, não está recebendo novos originais para avaliação.

Além de O museu do peixe morto, do Charles D’Ambrosio, os próximos títulos da Grua são: Sobressalto, do australiano Kenneth Cook (livro de 1961, que se tornou filme no começo da década de 70, Wake in Fright), Barbudos, sujos e fatigados, soldados brasileiros na Segunda Guerra, de Cesar Campiani Maximiniano, e O grande turco, de John Freely.

Luiz Ruffato

Publicou diversos livros, entre eles Inferno provisório, De mim já nem se lembra, Flores artificiais, Estive em Lisboa e lembrei de você, Eles eram muitos cavalos, A cidade dorme e O verão tardio, todos lançados pela Companhia das Letras. Suas obras ganharam os prêmios APCA, Jabuti, Machado de Assis e Casa de las Américas, e foram publicadas em quinze países. Em 2016, foi agraciado com o prêmio Hermann Hesse, na Alemanha. O antigo futuro é o seu mais recente romance. Atualmente, vive em Cataguases (MG).

Rascunho