Poemas de Irene Gruss

Quatro poemas de Irene Gruss
Ilustração: Rettamozo
01/12/2011

Tradução: Ronaldo Cagiano

Mulher mal-resolvida

Gostaria, como Gauguin, largar
tudo e ir-me,
deixar minha família, a não tão sólida
posição
e ir escrever em alguma ilha
mais solidária.
Essa tranqüilidade de Gauguin,
permanecer em uma ilha
tão quente, onde as mulheres
cospem resignadas
caroços de fruta silvestre.

Silêncio

Aqui é um mistério natural,
aqui onde o silêncio é mago,
meu senhor. A única coisa que aparece é a grama.
O amor ressoa
como um verso antigo.
Ressoa menos que o silêncio
e mais que os grilos.
Ninguém ocupará seu lugar, sua cadeira.
Canta comigo como eu,
com a boca fechada. Calmo como eu ao acordar
e faz mover as coisas,
para que façam seu ruído. O silêncio sabe
por que silencia; feito para dizer e calar.
Mistério natural quando da hora dourada.

Entropia

Esta melancolia, esta ternura vã,
a dor rareia — como se se tratasse de um gás.
Me asfixio, me dissipo,
água não é possível,
precipita,
nenhum remédio.
a boca de desfaz. Não falo mais.

O escárnio

O desespero não tem forma,
não é estético.
O idioma apodrece.
Há um cálculo perfeito de Thanatos e
um escárnio do destino.

Irene Gruss

Nasceu em Buenos Aires, em 1950. Estreou com La luz en la ventana (1982), seguindo-se El mundo incompleto (1987), La calma (1991), Solo de contralto (1997) e La dicha (2004), entre outros.

Rascunho