(03/10/2020)
Na próxima quinta-feira (8), a Academia Sueca divulga o vencedor do Nobel de Literatura. Depois de dois anos conturbados, que resultaram na atribuição de dois prêmios no mesmo ano por conta de escândalos envolvendo membros da instituição, o anúncio do ganhador deste ano tem gerado burburinho no meio literário.
A partir de hoje, o Rascunho publica as apostas (e desejos) de alguns autores brasileiros para o Nobel de Literatura 2020. Abrindo a série, o jornalista e escritor Ronaldo Bressane fala um pouco dos nomes que ele considera que podem alcançar a glória literária “eterna”. Entre os citados pelo autor de Escalpo, alguns nomes “ousados”, que não costumam figurar nas listas de prováveis ganhadores, como os brasileiros Milton Hatoum e Chico Buarque, e o britânico Alan Moore, autor das histórias em quadrinhos Watchmen e V de vingança, ambas adaptadas com sucesso para o cinema. “Está na hora de o Nobel de Literatura olhar para os quadrinhos”, diz Bressane.
Achille Mbembe
(filósofo, teórico político e historiador camaronês, 63 anos)
“Pela potência, originalidade e sofisticação de seu discurso, por ter cunhado o termo que define o fascismo contemporâneo, ‘necropolítica’, e por ter escrito o livro mais importante do nosso tempo, Crítica da razão negra, que propõe reparação histórica e renda mínima universal como condicionantes para a humanidade seguir viva.”
Margaret Atwood
(poeta, contista e romancista canadense, 80 anos)
“Pela variedade, riqueza e extensão da obra (poesia, ensaio, prosa), por ser a maior escritora de ficção científica viva e por ter tornado centrais temas como as ascensões das teocracias, a invisibilidade feminina e a violência contra a mulher em seu livro O conto da Aia.”
Javier Marías
(editor, tradutor e romancista espanhol, 69 anos)
“Pela impressionante extensão da obra, pela alta realização literária e renovação que propôs ao gênero romance, pela capacidade inaudita em entrelaçar a História às histórias íntimas de seus personagens, e pela beleza da saga Seu rosto amanhã.”
Alan Moore
(roteirista e autor de histórias em quadrinhos britânico, 66 anos)
“Está na hora de o Nobel de Literatura olhar para os quadrinhos, e quem é o melhor roteirista de HQ, o mais influente, o mais politicamente engajado, o mais libertário, o único que de fato transferiu a carga imagética das HQs para as ruas de todo o planeta?”
Milton Hatoum
(cronista e romancista brasileiro, 68 anos)
“Porque talvez seja o melhor escritor brasileiro em atividade, pela contundência e refinamento de seus romances, e porque um prêmio para um escritor amazônida de ascendência árabe jogaria holofotes para muitas questões políticas às quais o escritor trata sempre com peso.”
Chico Buarque
(músico, compositor e romancista brasileiro, 76 anos)
“Porque é o maior Chico Buarque vivo, porque escreve muito melhor que o Dylan, porque é genial tanto na letra melopeica quanto na prosa nua e crua, porque vem dissolvendo os limites entre baixa e alta cultura desde os anos 60, e porque nunca se esconde da raia na arena política.”
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