Paciência
um dia teremos a paciência dos monges
ou talvez não consigamos
nunca
vencer as águas que nos tomam os remos
e que vencem as pontes
que despontam no horizonte
ou
dos desertos, as nuvens
que nos cegam
monto as peças
à revelia do que vejo
há poeira entre os dedos
a vida me passeia
como corpo nu
ao relento
…………………….
Como quem destece redes
Me comeu
e deixou na língua o ranço.
entre dentes, fiapos do fruto
azedo
o nojo no roxo da gengiva
a carne exposta
língua e saliva
a carne abafa o espírito
desabriga saídas
a língua de ponta
rachada
qual terra ressequida.
me comeu,
deixou exposto o osso,
um fosso
e aberta a porta
as pernas
caravelas perpassando
continentes.
e como se não existisse o breu
me comeu
e me deixou no seio
um dente
me comeu como quem destece
redes
…………………….
Homem de mergulhos
Havia ali um homem louco,
no translado da ponte
não sabia — imagino —
o vermelho da ferrugem
mas andava qual confiante
postura altiva, olhar invicto…
escolhera um destino:
o lado menos rasante.
Dali em diante
seria homem de mergulhos
em seu bolso,
pescados vivos
lhe dariam motivos
à superfície…
Havia ali um homem louco
eu sei, vi em seus olhos
a distância percorrida
entre a pausa
e a descida.
Vi um homem.
Em seu corpo,
o orgulhoso traçado
o repaginado da ponte
dos rabiscos à corrente,
louco,
costurando o horizonte