Poemas de Bruno Ribeiro

Leia os poemas "Homem de mergulhos", "Como quem destece redes" e "Paciência"
Bruno Ribeiro, autor de Amores ébrios
15/06/2020

Paciência

um dia teremos a paciência dos monges

ou talvez não consigamos
nunca
vencer as águas que nos tomam os remos
e que vencem as pontes
que despontam no horizonte

ou
dos desertos, as nuvens
que nos cegam

monto as peças
à revelia do que vejo

há poeira entre os dedos

a vida me passeia
como corpo nu
ao relento

…………………….

Como quem destece redes

Me comeu
e deixou na língua o ranço.
entre dentes, fiapos do fruto
azedo
o nojo no roxo da gengiva
a carne exposta
língua e saliva

a carne abafa o espírito
desabriga saídas
a língua de ponta
rachada
qual terra ressequida.

me comeu,
deixou exposto o osso,
um fosso
e aberta a porta
as pernas
caravelas perpassando
continentes.

e como se não existisse o breu
me comeu
e me deixou no seio
um dente

me comeu como quem destece
redes

…………………….

Homem de mergulhos

Havia ali um homem louco,
no translado da ponte

não sabia — imagino —
o vermelho da ferrugem

mas andava qual confiante
postura altiva, olhar invicto…

escolhera um destino:
o lado menos rasante.

Dali em diante
seria homem de mergulhos

em seu bolso,
pescados vivos

lhe dariam motivos
à superfície…

Havia ali um homem louco
eu sei, vi em seus olhos

a distância percorrida
entre a pausa

e a descida.

Vi um homem.

Em seu corpo,
o orgulhoso traçado

o repaginado da ponte

dos rabiscos à corrente,
louco,
costurando o horizonte

Bruno Ribeiro

Nasceu em Maceió (AL), em 1980. É autor do livro de poemas Das horas (2014) e coautor de Amores ébrios (2017), coletânea de poesia alagoana contemporânea. É doutor em Estudos Literários e professor efetivo do Instituto Federal de Alagoas. Os poemas publicados nesta edição integram Travessia, ainda inédito.

Rascunho