Canto
quantas vozes-pássaros
ainda me trarão
a potência da partida no
idioma do enigma?
quantas quimeras ainda
desfilarão dentro do sonho
a que chamam vida?
quem tecerá o fio
mais longo e fugidio
no encanto da noite?
Noturno nº 1
Num teorema
de ruínas
e cantigas
pescar figuras
no oculto estranho
de um minuto
tanger a noite
no espanto dos olhos
sem reservas
voz e sombra
na garganta da palavra
Noturno nº 2
a erosão é busca
que revela os ventos
se alguém toca os sinos
na grande barca da noite
raio de luz submerge
no ventre da história
no borrão de adágios
em que a manhã desperta
e o vácuo vontade
em lâmina se abre