As regras
O rosado salta
da multidão da serra
no mesmo momento
do mesmo mês.
A derrubada
de folhas sincrônicas
de propósito e em burla
das pragas que nos assolam.
Eu menstruo, você menstrua
e as árvores-da-china
amarelam de graça
todas juntas.
Alva
Branca como o halo lunar,
uma boneca de porcelana,
a louça guardada
com ricos palmitos.
Pérolas de água-doce,
leite-de-flor.
Nunca me ocorreu
usar pó-de-arroz.
Branca-renascimento,
um bebê batizado.
A debutante,
a noiva virgem.
Branca, ave-maria.
Renda-sinhazinha.
Branco-gelo,
os dedos pingantes.
Branco-rosa-porquinho.
Branco-refluxo.
Branco, o suor azedo
de quem mal começou a suar.
Branca, metal-nobre.
Branca —
uma bala-perdida,
alvejante.
Branca como a anemia.
Branca como a amnésia.
Branca, é uma menina.
Branca-borracha.
Com a palidez de um susto —
branca-próprio-fantasma.
Branco, minha-nossa.
Branco-não-adianta-ir-à-missa.
Branco-horror-do-holocausto
debaixo do branco nariz.
Branca, não-mais,
eu te rogo.
Branca —
esse tempo todo.
(Espelho intolerável
em nada comparável
com estar
no outro lado da história.)
Branco, amarelo-cólera.
Branco-verde-enjoo.
Branco-roxo-nervoso.
Branco, que fizeste dos outros?
Branca de constrangimento —
como me verá o esquimó?
Branca rosa?
Branca-amarela?
Branca nesga na pele.
A cicatriz mútua se nega.
Negror não é o que te cega,
branca cicatriz que é minha.