coisas sobre nós que os livros de física ignoram
a gravidade lunar de meus dedos neste planeta
a radiação quente de teu corpo quando chora
o reflexo solar em nossos olhos na penumbra
a fluida inércia da noite ao redor deste quarto
a clara acústica dos sons que apenas intuo
o movimento jamais reto e uniforme do amor
…..
não sem louvor
em tudo que odiamos há um pouco de nós
no viscoso vínculo espicaçante e sensual
nos dedos a dobrar a esquina sem a sorte
dos preceitos edificantes e das sabedorias
raras coisas são mais puras que o asco
com o seu quê de delicia robusta e oleosa
o avesso de um banho há muito esperado
todo calor sob a capa aceitável da repulsa
três segundos e abraçamos a raiva do herói
duas curvas e é nossa a fúria do vilão
mesmo a vingança injusta reluz feito joia
ao opaco senão deveras baço do amor
alguns levarão a vida inteira sem admitir
o quanto o rancor é um bronze que ressoa
nas cavidades e artérias e no filtro dos rins
dando ao sangue o seu vermelho exuberante
…..
copos
terá sido em algum apartamento da juventude
entre copos relavados de extrato de tomate
dispersos sobre móveis de outras casas
o tempo é sempre um mau decorador
os restos da cerveja que ninguém tomará
esperam o frescor da pia enquanto dormem
aqueles que distraídos e sensuais debatiam
onde haveriam de estar dali a vinte anos