Em meio à dúvida

Michel Laub: "Certeza: a de que posso fracassar de muitas formas no resultado (não depende de mim), mas nunca baratear o processo"
Michel Laub, autor de “Diário da queda”
01/08/2018

Michel Laub nasceu em Porto Alegre (RS), em 1973, e está radicado em São Paulo (SP) desde os anos 1990. Como jornalista, foi editor-chefe da revista Bravo! e colunista dos jornais Folha de S. Paulo e O Globo, entre outras experiências. Estreou na ficção em 1998, com os contos de Não depois do que aconteceu — sua única incursão pelo gênero. A partir de 2001, com o lançamento do romance Música anterior, seguiu praticando a narrativa de fôlego e, hoje, seus livros já saíram em 13 países e 10 idiomas. É autor de sete romances, entre eles Diário da queda (2011), que teve os direitos vendidos para o cinema, A maçã envenenada (2013) e O tribunal de quinta-feira (2016), além de integrar a coletânea Os melhores jovens escritores brasileiros (2012), da revista Granta. Diversas vezes finalista dos mais importantes prêmios literários do Brasil, já ganhou, entre outros, o inglês JQ — Wingate e o francês Transfuge.

• Quando se deu conta de que queria ser escritor?
Depois de já ser um.

• Quais são suas manias e obsessões literárias?
A reescrita.

• Que leitura é imprescindível no seu dia a dia?
Não-ficção.

• Se pudesse recomendar um livro ao presidente Michel Temer, qual seria?
O livro do Aristóteles citado no Nome da rosa (mas tem que ser aquele exemplar).

• Quais são as circunstâncias ideais para escrever?
Sol, escritório, manhã, sem ressaca.

• Quais são as circunstâncias ideais de leitura?
Idem, mas na cama.

• O que considera um dia de trabalho produtivo?
Não jogar fora o que fiz ontem já está bom.

• O que lhe dá mais prazer no processo de escrita?
Ter escrito.

• Qual o maior inimigo de um escritor?
Internet.

• O que mais lhe incomoda no meio literário?
O mesmo que em qualquer outro grupo social.

• Um autor em quem se deveria prestar mais atenção.
Nelson Rodrigues.

• Um livro imprescindível e um descartável.
A Bíblia, conforme o uso que se faz da leitura.

• Que defeito é capaz de destruir ou comprometer um livro?
Beletrismo, com todos os seus disfarces.

• Que assunto nunca entraria em sua literatura?
Qualquer um não elaborado literariamente.

• Qual foi o canto mais inusitado de onde tirou inspiração?
Qualquer um da época em que não era escritor — depois que virei, nada mais é inusitado.

• Quando a inspiração não vem…
Se fosse esperar por ela, nunca teria escrito nada.

• Qual escritor — vivo ou morto — gostaria de convidar para um café?
Jamil Snege — tentamos uma vez, não deu tempo.

• O que é um bom leitor?
Alguém com o mundo interior rico.

• O que te dá medo?
Só na letra A: avião, artrite, Antropoceno.

• O que te faz feliz?
Mais as coisas pequenas do que as grandes.

• Qual dúvida ou certeza guiam seu trabalho?
Dúvidas: todas as imagináveis, literárias e pessoais. Certeza: a de que posso fracassar de muitas formas no resultado (não depende de mim), mas nunca baratear o processo.

• Qual a sua maior preocupação ao escrever?
Dizer a verdade, que em geral eu só vou saber qual é depois de ter escrito.

• A literatura tem alguma obrigação?
A de ser literatura, o que já é uma façanha.

• Qual o limite da ficção?
O leitor.

• Se um ET aparecesse na sua frente e pedisse “leve-me ao seu líder”, a quem você o levaria?
Escritores não podem ter líderes.

• O que você espera da eternidade?
Que não exista.

Rascunho

Rascunho foi fundado em 8 de abril de 2000. Nacionalmente reconhecido pela qualidade de seu conteúdo, é distribuído em edições mensais para todo o Brasil e exterior. Publica ensaios, resenhas, entrevistas, textos de ficção (contos, poemas, crônicas e trechos de romances), ilustrações e HQs.

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