Obsessão pela memória

Tatiana Salem Levy: "Muitas coisas. Neste momento, tenho medo das pessoas que vão para a rua pedir intervenção militar no Brasil."
Tatiana Salem Levy, autora de “Vista Chinesa”, semifinalista do Prêmio Oceanos 2022
30/06/2015

Tatiana Salem Levy nasceu em 1979, em Lisboa, onde sua família estava exilada devido à ditatura militar no Brasil. Antes de completar um ano de vida, já estava morando no Rio de Janeiro. Estreou na literatura em 2007 com o romance A chave de casa, vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura. Em 2011, publicou Dois rios. E, ao final de 2014, lançou o romance Paraíso. Ela é mestre em estudos literários e tradutora do francês.

Quando se deu conta de que queria ser escritora?
Eu já desconfiava, mas certeza eu tive aos 14 anos, quando li Memórias de uma moça bem-comportada, da Simone de Beauvoir.

• Quais são suas manias e obsessões literárias?
Manias, não tenho. Uma das minhas obsessões literárias é a memória.

Que leitura é imprescindível no seu dia-a-dia?
Jornal, de manhã. Ficção ou ensaios, ao longo do dia.

• Se pudesse recomendar um livro à presidente Dilma, qual seria?
Todos os contos de Machado de Assis.

• Quais são as circunstâncias ideais para escrever?
Tempo, silêncio e uma cadeira confortável.

• Quais são as circunstâncias ideais de leitura?
Tempo, silêncio e um sofá confortável.

O que considera um dia de trabalho produtivo?
Um dia em que eu tenha escrito uma boa frase, ou algumas boas páginas; um dia que eu tenha escrito uma boa coluna para o Valor; um dia que eu tenha tido uma boa ideia ou um dia que eu tenha lido um ótimo livro.

• O que lhe dá mais prazer no processo de escrita?
Descobrir o sentido de cada texto.

Qual o maior inimigo de um escritor?
A vaidade.

O que mais lhe incomoda no meio literário?
A vaidade.

Um autor em quem se deveria prestar mais atenção.
Paloma Vidal.

Um livro imprescindível e um descartável.
Grande sertão: veredas. Descartável, não sei indicar. Normalmente, nem começo a lê-los.

Que defeito é capaz de destruir ou comprometer um livro?
Ser artificial, não ter verdade.

Que assunto nunca entraria em sua literatura?
Os que não me interessam. Por exemplo, robótica.

Qual foi o canto mais inusitado de onde tirou inspiração?
Da cabeça de certas pessoas, talvez.

Quando a inspiração não vem…
Vou ler, fazer ginástica, yoga, comer, dormir… Isso não me angustia, porque vivo com a ilusão de ter todo o tempo do mundo para escrever.

• Qual escritor — vivo ou morto — gostaria de convidar para um café?
Virginia Woolf, algumas horas antes do seu suicídio.

O que é um bom leitor?
Qualquer leitor já é lucro.

O que te dá medo?
Muitas coisas. Neste momento, tenho medo das pessoas que vão para a rua pedir intervenção militar no Brasil.

O que te faz feliz?
Muitas coisas também. Um mergulho no mar, um bom livro, viajar, estar com as pessoas que amo.

Qual dúvida ou certeza guia seu trabalho?
Acho que só tenho dúvidas. Não tenho nem a certeza de que um dia não vá parar de escrever. Tenho um enorme fascínio pelas pessoas que de repente mudam completamente de profissão.

• Qual a sua maior preocupação ao escrever?
Ser verdadeira comigo mesma.

A literatura tem alguma obrigação?
A de ser livre.

Qual o limite da ficção?
Nenhum. Pode até ser não-ficção.

• Se um ET aparecesse na sua frente e pedisse “leve-me ao seu líder”, a quem você o levaria?
Eu lhe diria que caiu no planeta errado.

• O que você espera da eternidade?
Que ela não exista.

Rascunho

Rascunho foi fundado em 8 de abril de 2000. Nacionalmente reconhecido pela qualidade de seu conteúdo, é distribuído em edições mensais para todo o Brasil e exterior. Publica ensaios, resenhas, entrevistas, textos de ficção (contos, poemas, crônicas e trechos de romances), ilustrações e HQs.

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