Tatiana Salem Levy nasceu em 1979, em Lisboa, onde sua família estava exilada devido à ditatura militar no Brasil. Antes de completar um ano de vida, já estava morando no Rio de Janeiro. Estreou na literatura em 2007 com o romance A chave de casa, vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura. Em 2011, publicou Dois rios. E, ao final de 2014, lançou o romance Paraíso. Ela é mestre em estudos literários e tradutora do francês.
• Quando se deu conta de que queria ser escritora?
Eu já desconfiava, mas certeza eu tive aos 14 anos, quando li Memórias de uma moça bem-comportada, da Simone de Beauvoir.
• Quais são suas manias e obsessões literárias?
Manias, não tenho. Uma das minhas obsessões literárias é a memória.
• Que leitura é imprescindível no seu dia-a-dia?
Jornal, de manhã. Ficção ou ensaios, ao longo do dia.
• Se pudesse recomendar um livro à presidente Dilma, qual seria?
Todos os contos de Machado de Assis.
• Quais são as circunstâncias ideais para escrever?
Tempo, silêncio e uma cadeira confortável.
• Quais são as circunstâncias ideais de leitura?
Tempo, silêncio e um sofá confortável.
• O que considera um dia de trabalho produtivo?
Um dia em que eu tenha escrito uma boa frase, ou algumas boas páginas; um dia que eu tenha escrito uma boa coluna para o Valor; um dia que eu tenha tido uma boa ideia ou um dia que eu tenha lido um ótimo livro.
• O que lhe dá mais prazer no processo de escrita?
Descobrir o sentido de cada texto.
• Qual o maior inimigo de um escritor?
A vaidade.
• O que mais lhe incomoda no meio literário?
A vaidade.
• Um autor em quem se deveria prestar mais atenção.
Paloma Vidal.
• Um livro imprescindível e um descartável.
Grande sertão: veredas. Descartável, não sei indicar. Normalmente, nem começo a lê-los.
• Que defeito é capaz de destruir ou comprometer um livro?
Ser artificial, não ter verdade.
• Que assunto nunca entraria em sua literatura?
Os que não me interessam. Por exemplo, robótica.
• Qual foi o canto mais inusitado de onde tirou inspiração?
Da cabeça de certas pessoas, talvez.
• Quando a inspiração não vem…
Vou ler, fazer ginástica, yoga, comer, dormir… Isso não me angustia, porque vivo com a ilusão de ter todo o tempo do mundo para escrever.
• Qual escritor — vivo ou morto — gostaria de convidar para um café?
Virginia Woolf, algumas horas antes do seu suicídio.
• O que é um bom leitor?
Qualquer leitor já é lucro.
• O que te dá medo?
Muitas coisas. Neste momento, tenho medo das pessoas que vão para a rua pedir intervenção militar no Brasil.
• O que te faz feliz?
Muitas coisas também. Um mergulho no mar, um bom livro, viajar, estar com as pessoas que amo.
• Qual dúvida ou certeza guia seu trabalho?
Acho que só tenho dúvidas. Não tenho nem a certeza de que um dia não vá parar de escrever. Tenho um enorme fascínio pelas pessoas que de repente mudam completamente de profissão.
• Qual a sua maior preocupação ao escrever?
Ser verdadeira comigo mesma.
• A literatura tem alguma obrigação?
A de ser livre.
• Qual o limite da ficção?
Nenhum. Pode até ser não-ficção.
• Se um ET aparecesse na sua frente e pedisse “leve-me ao seu líder”, a quem você o levaria?
Eu lhe diria que caiu no planeta errado.
• O que você espera da eternidade?
Que ela não exista.