Em 1959, a Civilização Brasileira começou a publicar uma ambiciosa e importantíssima antologia denominada Panorama do conto brasileiro, concebida para onze volumes e doze tomos, que foi então (e continua sendo) o maior empreendimento desse gênero em nossa história editorial. Para termos uma ideia da grandeza do projeto, basta perceber que sua dimensão equivale à da célebre antologia Mar de histórias, organizada por Aurélio Buarque de Holanda e Paulo Rónai, cujo alcance, todavia, é universal.
Selecionaram e anotaram os textos alguns dos principais antologistas que o Brasil já teve, como Barbosa Lima Sobrinho, Edgard Cavalheiro, Mário da Silva Brito, Magalhães Júnior e Jerônimo Monteiro. O princípio adotado na organização dos contos não foi, contudo, uniforme: o Panorama começa com um critério cronológico, passa depois a regional e termina com uma classificação temática.
Os precursores formam o primeiro volume: embora o valor seja mais historiográfico que estético, há contos interessantes, como um dos de Paula Brito, que defende a legitimidade do sexo antes do casamento. O segundo volume é O conto romântico, em que já se destacam Álvares de Azevedo e o Machado de Assis da primeira fase. Mas a antologia começa a ficar mesmo boa a partir do terceiro volume: O conto paulista, reunindo gente como Ribeiro Couto, Mário de Andrade, Diná Silveira de Queirós, Monteiro Lobato, Valdomiro Silveira, Lygia Fagundes Telles, Alcântara Machado e outros.
O critério regional produziu ainda mais três volumes: O conto mineiro, O conto do norte (em dois tomos, o que chama particularmente a atenção para a copiosidade da literatura nordestina) e O conto do Rio de Janeiro (que se subdivide sintomaticamente em “contistas cariocas” e “contistas fluminenses”). Embora tenha sido previsto um volume para O conto do sul (o sexto, no plano da coleção), nunca tive notícia da existência desse livro, em meus mais de trinta anos de garimpo; e suspeito que não tenha sido publicado.
Os volumes finais do Panorama, quando passa ao critério temático, apresentam um recorte ao menos muito curioso. Do oitavo ao décimo primeiro volume, temos O conto fantástico, O conto trágico, O conto feminino (na verdade, classificação conforme o sexo do autor, embora o tema dominante seja a própria mulher) e O conto da vida burocrática. Este último é tão sui generis, tão inusitado, tão caracteristicamente brasileiro que acaba por dizer muito sobre a constituição da nossa literatura e, por conseguinte, sobre a formação da nossa intelectualidade.
Creio seja dispensável justificar a relevância do Panorama, a necessidade de sua presença em qualquer biblioteca, tanto na de quem deseje conhecer a literatura brasileira — na sua formação, na sua configuração regional e em algumas de suas principais tendências — quanto para quem apenas admire o conto como gênero. Porque o conto, destituído da circunstancialidade da crônica e das redundâncias do romance, é a mais nobre das modalidades da prosa; e a única verdadeiramente universal.
Será quase impossível ao garimpeiro encontrar num mesmo sebo os dez volumes, ou onze tomos, do Panorama do conto brasileiro. É mais fácil procurar cada volume isoladamente — lembrando que o quinto, O conto do norte, tem dois tomos; e que o sexto, O conto do sul, embora conste da relação das contracapas, talvez nunca tenha saído do prelo. Em bom estado, cada livro sai por cerca de R$ 20.