Eterna curiosidade

Adriana Lisboa: "Escrever uma linha ou um verso já é bom. Apagar um monte deles também é."
Adriana Lisboa. Foto: Julie Harris
01/09/2014

Adriana Lisboa nasceu no Rio de Janeiro (RJ), em 1970. Já morou na França, onde foi cantora de música popular brasileira, passou algum tempo no Japão, como pesquisadora visitante no Nichibunken, em Kyoto, e vive hoje nos Estados Unidos. Sua primeira graduação foi em música, pela Uni-Rio; posteriormente, tornou-se mestre em literatura brasileira e doutora em literatura comparada pela UERJ. Estreou na literatura em 1999, com o romance Os fios da memória. Pelo segundo romance, Sinfonia em branco (2001), recebeu o Prêmio José Saramago e foi apontada pela crítica como uma das mais importantes revelações da nova literatura brasileira. Foi premiada como autora revelação da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, por Língua de trapos. Em Caligrafias, reúne contos curtos e poemas em prosa. Como novelista, publicou O coração às vezes para de bater. Seus livros já foram traduzidos para o inglês, francês, espanhol, alemão, italiano, romeno, sueco e sérvio. Traduziu para o português autores como Cormac McCarthy, Robert Louis Stevenson, Marilynne Robinson, Maurice Blanchot e Jonathan Safran Foer. Seu mais recente livro, Hanói, concorre ao Prêmio São Paulo de Literatura 2014 na categoria Melhor romance do ano.

Quando se deu conta de que queria ser escritora?
Muito cedo me dei conta de que gostava de escrever. Quanto a ser escritora, nem sei bem o que é isso, que tipo de compromisso a gente assume. Eu escreveria mesmo que não publicasse.

Quais são suas manias e obsessões literárias?
Não tenho nenhuma.

Que leitura é imprescindível no seu dia-a-dia?
Imprescindível mesmo, poesia.

Se pudesse recomendar um livro à presidente Dilma, qual seria?
O último relatório do Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudanças Climáticas.

Quais são as circunstâncias ideais para escrever?
Tempo, vontade de escrever e uma ideia na cabeça.

Quais são as circunstâncias ideais de leitura?
Tempo e ninguém falando comigo.

O que considera um dia de trabalho produtivo?
Escrever uma linha ou um verso já é bom. Apagar um monte deles também é.

O que lhe dá mais prazer no processo de escrita?
O próprio processo. A matéria-prima.

Qual o maior inimigo de um escritor?
O umbigo.

O que mais lhe incomoda no meio literário?
As pessoas se levarem a sério demais.

Um autor em quem se deveria prestar mais atenção.
Susana Fuentes, autora dos maravilhosos contos de Escola de gigantes e do romance Luzia, finalista do Prêmio São Paulo (ambos pela 7Letras)

Um livro imprescindível e um descartável.
Imprescindível, Grande sertão: veredas. Descartável, todo aquele cuja leitura não me desloca um milímetro do lugar.

Que defeito é capaz de destruir ou comprometer um livro?
Ser panfletário demais ou autorreferente demais.

Que assunto nunca entraria em sua literatura?
Extraterrestres e vampiros, acho. Mas nunca se sabe.

Qual foi o canto mais inusitado de onde tirou inspiração?
Um sequestro-relâmpago de que fui vítima ano passado em Pequim.

Quando a inspiração não vem…
Não tem problema nenhum. Vou fazer outra coisa, lavar pratos.

Qual escritor — vivo ou morto — gostaria de convidar para um café?
Hermann Hesse.

O que é um bom leitor?
O que se aproxima do livro com curiosidade. O que lê devagar. O que larga livros pela metade.

O que te dá medo?
A ganância, a arrogância, a intolerância.

O que te faz feliz?
Café, música, tofu. Correr. A companhia das pessoas que amo.

Qual dúvida ou certeza guia seu trabalho?
Dúvida, todas. Certeza, a de que é preciso manter os pés no chão.

Qual a sua maior preocupação ao escrever?
Encarar a escrita com o mesmo prazer e curiosidade dos meus nove, dez anos de idade.

A literatura tem alguma obrigação?
Sim, para com a própria literatura. Do contrário ela é outra coisa.

Qual o limite da ficção?
É um limite ético. Não acredito no vale-tudo na arte e na literatura.

Se um ET aparecesse na sua frente e pedisse “leve-me ao seu líder”, a quem você o levaria?
A ninguém. Explicaria: estamos em falta.

O que você espera da eternidade?
Não espero nada. O que vier é lucro.

Rascunho

Rascunho foi fundado em 8 de abril de 2000. Nacionalmente reconhecido pela qualidade de seu conteúdo, é distribuído em edições mensais para todo o Brasil e exterior. Publica ensaios, resenhas, entrevistas, textos de ficção (contos, poemas, crônicas e trechos de romances), ilustrações e HQs.

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