Marçal Aquino nasceu em Amparo (SP), em 1958. Cresceu numa fazenda. Começou lendo histórias em quadrinhos, com as quais foi alfabetizado. Se os livros até então o entediava, tudo mudou ao ler Tarzan, de Edgar Rice Burroughs. Fascinado, abandonou os quadrinhos e virou leitor. Sem condições de comprar livros, aos 11 anos descobriu a Biblioteca de Amparo, que contava com cerca de 13 mil exemplares. Tornou-se o dito rato de biblioteca, chegando mesmo a mentir a idade para ter acesso a livros proibidos. Enquanto as crianças jogavam bola, Aquino lia Moby Dick. Já o fascínio pela escrita começou na escola, ao descobrir que podia mentir à vontade nas redações. Graduou-se em jornalismo pela PUC-Campinas, em 1983. Em 1984, publicou de forma independente o livro de poemas A depilação da noiva no dia do casamento. No ano seguinte, mudou-se para São Paulo (SP), onde trabalhou nos jornais Gazeta Esportiva, O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde. Com os livros de contos As fomes de setembro e O amor e outros objetos pontiagudos, faturou respectivamente os prêmios Nestlé e Jabuti de Literatura. Também é autor de Faroestes, Cabeça a prêmio, Miss Danúbio e Famílias terrivelmente felizes. No cinema, em parceria com o diretor Beto Brant, sua obra serviu como matriz para os filmes Os matadores, O invasor e Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios (romance publicado na Alemanha e França).
• Quando se deu conta de que queria ser escritor?
Lá pelos 15 anos, quando as histórias em quadrinhos que eu desenhava deixaram de me satisfazer como forma de expressão.
• Quais são suas manias e obsessões literárias?
Acho que só tenho uma mania, que é escrever literatura à mão, em cadernos.
• Que leitura é imprescindível no seu dia-a-dia?
Poesia. Estou sempre intercalando com a prosa que leio.
• Se pudesse recomendar um livro à presidente Dilma, qual seria?
Eminência parda, de Aldous Huxley.
• Quais são as circunstâncias ideais para escrever?
Silêncio e recolhimento.
• Quais são as circunstâncias ideais de leitura?
Recolhimento e silêncio.
• O que considera um dia de trabalho produtivo?
Quando consigo colocar no papel alguma ideia que estava me rondando, não importa o tamanho do texto resultante — nesse caso, uma linha é tão boa quanto dez.
• O que lhe dá mais prazer no processo de escrita?
O momento da escrita, em si.
• Qual o maior inimigo de um escritor?
A preguiça.
• O que mais lhe incomoda no meio literário?
Tudo que não é literário.
• Um autor em quem se deveria prestar mais atenção.
Tércia Montenegro.
• Um livro imprescindível e um descartável.
Imprescindível: Angústia, de Graciliano Ramos. Descartável: qualquer livro que pretenda trazer algum tipo de conforto; literatura deve incomodar.
• Que defeito é capaz de destruir ou comprometer um livro?
A falta de verdade.
• Que assunto nunca entraria em sua literatura?
Não existe. Qualquer assunto interessa à literatura.
• Qual foi o canto mais inusitado de onde tirou inspiração?
De um minúsculo ideograma que vi tatuado no pulso de uma garota, uma vez, no Metrô. Rendeu um conto que adoro.
• Quando a inspiração não vem…
Nunca espere por ela — trabalhe.
• Qual escritor — vivo ou morto — gostaria de convidar para um café?
Luiz Ruffato, com quem está cada vez mais difícil tomar um café.
• O que é um bom leitor?
Aquele que lê com a imaginação.
• O que te dá medo?
A possibilidade da dor.
• O que te faz feliz?
A certeza do efêmero.
• Qual dúvida ou certeza guia seu trabalho?
Um escritor com certezas é um farsante. Tenho dúvida até sobre que roupa vestir na hora de escrever.
• Qual a sua maior preocupação ao escrever?
Agradar ao leitor que existe em mim.
• A literatura tem alguma obrigação?
Só a de ser honesta.
• Qual o limite da ficção?
Não creio que a ficção tenha limites.
• Se um ET aparecesse na sua frente e pedisse “leve-me ao seu líder”, a quem você o levaria?
Lourenço Mutarelli.
• O que você espera da eternidade?
Que passe bem rápido.