Ignatius J. Reilly, protagonista de Uma confraria de tolos, Ă© um Quixote que ainda espera por reconhecimento. Uma verdadeira injustiça, porque em certos momentos do livro de John Kennedy Toole, Ignatius parece o neto de Quixote que suplantou a verve nonsense do antepassado com altas doses de cultura e um egocentrismo sem limites, o traço mais interessante da personalidade do herĂłi em questĂŁo. Ignatius Ă© glutĂŁo, preguiçoso e pesado demais para fazer qualquer coisa alĂ©m de teorizar contra o caos da modernidade, a abjeta cultura pop e a desonestidade do mundo — sobra atĂ© para os beatniks. É um intelectual incompreendido, que ainda mora com a mĂŁe e nunca teve PIS. Mas a marĂ© muda e Ignatius Ă© obrigado a arranjar emprego. Primeiro como vendedor de cachorro-quente, depois em uma fábrica de calças onde se mete em um escândalo e acaba procurado pela polĂcia. No final, aos vinte e tantos anos, foge de casa. Basicamente, Ă© isso. Mas quando se tem um Ignatius Ă© o suficiente. AtĂ© para ganhar um Pulitzer.