“Estou em um ringue de boxe e não sei lutar muito bem. Troco alguns sopapos. Meio desengonçados. Só de autodefesa. Golpeio o ar sem piedade. O outro lutador desvia rápido de mim e me desfere poucos golpes. Golpes certeiros. Acho que tem pena. Seus olhos dizem que não. Levante e me acerte! Não existe pena! Não existe culpa! Eles dizem. Seus golpes me acertam no mesmo lugar. No único lugar do corpo que não me aleija e não me deixa marcas aparentes. Só eu e ele sabemos sobre essas marcas. Ler Pedro Juan Gutiérrez é esse ringue. É estar num ringue e apanhar apanhar apanhar até a alma desfalecer. Mas mesmo assim você vai continuar. Vai ler e reler de novo e de novo e de novo em modo contínuo numa espécie de autognose masoquista. Até hoje Gutiérrez foi o único cara que me arrancou lágrimas de derrota. E sem a possibilidade de uma revanche. Depois da luta é catar os pedaços que restaram e botar no bolso e seguir em frente. Deve ser por isso.
Eu recomendo Trilogia suja de Havana praqueles que querem sentir esse gosto.”