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Inquérito especial com Alice Sant’Anna, autora de “Rabo de baleia”, na Flip 2013
Alice Sant’Anna durante a Flip 2013
10/07/2013

No calor dos dias ensolarados de Paraty, a garrafinha d’água faz as vezes de melhor amiga. Neste Inquérito, ela foi fiel parceira da poeta carioca Alice Sant’Anna, convidada da primeira mesa da Flip 2013, junto às também poetas Ana Martins Marques e Bruna Beber. Nascida no Rio de Janeiro, em 1988, Alice publicou seu primeiro livro, Dobradura, em 2008. De forma independente, lançou ainda Bichinho de luz (2009) e Pingue-pongue (2012), em parceria com Armando Freitas Filho. O recém-lançado Rabo de baleia (Cosac Naify) nasceu após a volta de uma viagem a Paris, do desejo de escrever sobre o sentimento de estar longe de casa. Já no Rio, porém, a tarefa tornou-se complicada, o que levou o livro a tomar outro caminho. Neste Inquérito, Alice fala de uma mania de leitura e revela um lugar inusitado que lhe rendeu inspiração.

Quando se deu conta de que queria ser escritora?
Talvez aos 16 anos, quando fiz um intercâmbio pra Nova Zelândia. Mas acho que ainda não me dei conta, por não considerar isso um ofício. Não escrevo um poema faz três meses.

• Quais são suas manias e obsessões literárias?
Quando pego um livro de poesia, de um poeta contemporâneo, leio de uma vez só. Como se fosse ouvir um disco: tem que ouvir o conjunto, não duas faixas e depois largar.

Que leitura é imprescindível no seu dia-a-dia?
Jornal. À noite eu leio o que tiver na cabeceira.

• Se pudesse recomendar um livro à presidente Dilma, qual seria?
Um útero é do tamanho de um punho, da Angélica Freitas.

• Quais são as circunstâncias ideais para escrever?
Quando a vida está muito agitada, sem espaço pra escrever, é que dá pra escrever. Quando eu tenho muito tempo pra escrever, é difícil render uma coisa boa.

• Quais são as circunstâncias ideais de leitura?
Acho que depende do que estou lendo. Prefiro ler com silêncio, mas li muito no ônibus, e inclusive andando. Já que sou um pouco distraída, então hoje em dia leio mais antes de dormir, deitada.

O que considera um dia de trabalho produtivo?
Quando escrevo um poema já acho a apoteose da produção. Fico bem satisfeita quando tenho uma idéia que consegue se transformar em poesia.

• O que lhe dá mais prazer no processo de escrita?
Não cortar um poema. Quando consigo seguir uma linha, depois outra…

Qual o maior inimigo de um escritor?
São poucos os amigos de um escritor, são poucas coisas que te incentivam a escrever no dia-a-dia. Um poema bom demais que a gente lê pode ser um amigo bem como um inimigo, pois você percebe que nunca poderá chegar tão longe.

O que mais lhe incomoda no meio literário?
Vaidade, talvez. 

Um autor em quem se deveria prestar mais atenção.
Ismar Tirelli Neto, um dos meus poetas preferidos.

Um livro imprescindível e um descartável.
Imprescindível: A teus pés, da Ana Cristina Cesar. Descartável, eu respondo depois.

Que defeito é capaz de destruir ou comprometer um livro?
Uma revisão mal-feita.

Que assunto nunca entraria em sua literatura?
Religiosidade, erotismo…

Qual foi o canto mais inusitado de onde tirou inspiração?
A torneira do banheiro do lugar onde eu trabalho.

Quando a inspiração não vem…
Eu espero ela dar as caras.

• Qual escritor — vivo ou morto — gostaria de convidar para um café?
Chico Alvim.

O que é um bom leitor?
O leitor crítico, que se interessa.

O que te dá medo?
O tédio.

O que te faz feliz?
Quando eu encontro alguém que me dá oi e sorri.

Qual dúvida ou certeza guia seu trabalho?
A certeza de que não se pode impor uma única leitura, você pode evitar algumas. Eu aprendi isso com meu primeiro livro: poesia pode ser lida de um jeito clichê e fofo.

• Qual a sua maior preocupação ao escrever?
Que o poema diga alguma coisa, que consiga se transformar em algo material, se desdobrando em outras coisas.

A literatura tem alguma obrigação?
Obrigação talvez seja uma palavra forte, mas ela pode sugerir, construir, mudar. A literatura não precisa, ela pode. E essa é a grande vantagem, não precisar precisar. Se tivesse alguma obrigação, ela seria dura e fechada em si.

Qual o limite da ficção?
Ele não existe.

• Se um ET aparecesse na sua frente e pedisse “leve-me ao seu líder”, a quem você o levaria?
Armando Freitas Filho.

• O que você espera da eternidade?
Nada. Eu não sei o que vai acontecer daqui a cinco anos, na eternidade muito menos.

Rascunho

Rascunho foi fundado em 8 de abril de 2000. Nacionalmente reconhecido pela qualidade de seu conteúdo, é distribuído em edições mensais para todo o Brasil e exterior. Publica ensaios, resenhas, entrevistas, textos de ficção (contos, poemas, crônicas e trechos de romances), ilustrações e HQs.

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