Nos anos 1970, um grupo de jovens brasileiros de origem judaico-alemã viaja a Israel. Desviando do programa, um deles parte rumo à Europa em busca de ecos da cultura de que tanto ouviu falar e da modernidade do continente. O que ele encontra em seus velhos parentes, no entanto, é uma sucessão de exílios que se convertem em silêncio, vazio e ruína — a “pátria da ausência”. A um refugiado judeu-alemão na Inglaterra que age como se eles fossem parentes “que não se viam há tempos e se encontram num lugar, longe”, o narrador questiona: “Longe de onde?”.
Essa busca pelas origens é o ponto de partida de Deserto (Benvirá), segundo romance de Luis S. Krausz. Apesar de munido de conhecimento real, direto e histórico sobre o tema, ao autor foi essencial dar forma à descoberta de suas próprias origens e ao retrato de judeus de cultura alemã exilados através da criação ficcional e do impulso narrativo. No entanto, para Krausz esse impulso — “uma força autônoma, um poder absoluto ao qual o autor se entrega ao criar” — só existe quando o tema da escrita faz parte dele, de alguma maneira.
Professor de literatura judaica e hebraica na Universidade de São Paulo e tradutor, Krausz nasceu em São Paulo, em 1961. É também autor do romance Desterro (Tordesilhas) e Passagens (Edusp), um estudo sobre a literatura judaico-alemã dos séculos 19 e 20. Nesta entrevista, concedida via e-mail, Krausz fala sobre o impulso narrativo frente à crescente “profissionalização” do autor, identidade, o fascínio com os livros e as línguas, suas leituras e a escrita de Deserto, vencedor do Prêmio Benvirá de Literatura.
• Desterro, seu romance anterior, apresenta a memória familiar de judeus que vieram para o Brasil fugindo de perseguições na Europa Central. O que o fez voltar a temas como memória, imigração e identidade em Deserto?
O trabalho em Desterro acabou despertando em mim o interesse por este passado das minhas memórias familiares — e também as daqueles que têm origens semelhantes às minhas. Meu trabalho acadêmico focaliza, em grande parte, a literatura judaico-alemã do século 19 e do século 20, onde está representado um universo hoje desaparecido, mas que eu conheci de perto, que é o dos judeus assimilados à cultura alemã, que se sentiam perfeitamente em casa na Europa Central e que tinham abandonado em certa medida os laços que os vinculavam à tradição judaica. Subitamente este grupo viu-se privado daquilo que considerava como seu lar, na cultura e na língua alemãs, recebendo o rótulo da exclusão implícito no termo “judeu”. E ao mesmo tempo, este era um termo que já não tinha mais muito significado para eles mesmos, de maneira que eles formam um grupo emblemático da condição de exclusão, um grupo condenado a um exílio perpétuo, cuja história antecipa aspectos característicos da história do século 20, o século das catástrofes, dos exílios, das grandes migrações.
• Interessa ao senhor escrever um livro desvinculado desses temas? Que sentimento move sua criação?
É muito difícil para mim fazer projetos de longo prazo quando o assunto é a criatividade literária. Parto do pressuposto de que as idéias e os temas surgem no momento da escrita — nunca de antemão. E também é difícil descrever o sentimento que move a minha criação. O que posso afirmar com razoável dose de certeza é que só sou capaz de escrever a partir de experiências — que podem estar num passado mais ou menos distante, que pode até ser um passado herdado, mas que necessariamente têm que fazer parte de mim de alguma maneira. Para mim, é necessária uma identificação total com o assunto da escrita.
• A história de sua família, vinda de Viena na década de 1920, poderia render uma biografia, e os temas tratados em suas obras poderiam ser abordados ensaisticamente. Por que escolheu a ficção para dar forma a essas histórias?
A ficção me parece o instrumento mais adequado para dar voz às emoções, aos sentimentos, que são, no caso destes dois livros, a matéria-prima da minha escrita. Um ensaio é algo muito mais cerebral, é uma reflexão que vem de uma fonte diversa, é uma construção bem menos visceral, que não daria conta da tarefa de recapitular estas minhas heranças.
• O fato de escrever sobre a cultura judaica, usar fatos reais e memória familiar acarretou em cuidados especiais?
Nesse caso, os fatos reais são apenas pontos de partida para as construções ficcionais. Por meio dessas construções, as memórias são reelaboradas, adquirem novos contornos, transformam-se. O próprio passado é reconstruído a tal ponto que muitas vezes se torna irreconhecível. A prudência não faz parte deste jogo, pois este é um jogo que depende inteiramente da liberdade narrativa.
• E até onde vai a liberdade da ficção?
A liberdade da ficção deve ser absoluta. Não pode sofrer nenhum tipo de restrição. Se não for assim, acho que não vale a pena.
• Por que optou por um narrador jovem descobrindo suas origens ao invés de uma voz recordando sua vida e origens?
Acredito que só agora tenha me aproximado mais do real significado do que foram, para mim, àquela época, essas descobertas das minhas origens. Eu não sabia muito bem o que me atraía tanto naquelas pessoas de idade avançada que conheci durante a viagem descrita em Deserto, uma viagem que fiz em minha adolescência. Então, o narrador jovem é uma maneira de voltar àquele tempo, mas também de rever e de reinterpretar as memórias que guardo comigo das impressões de então, isto é, de construir algo novo a partir daquele passado.
• Deserto se desenvolve como um diário das descobertas do narrador, o que o aproxima da ideia de serem as suas memórias. Como se deu a construção do livro?
O ponto de partida foram mesmo as minhas lembranças de uma viagem que fiz há trinta e cinco anos, e que me marcou sobremaneira. Mas estas lembranças são apenas a matéria-prima para os castelos — e, sobretudo, para as construções mais humildes — que vão surgindo ao longo da narrativa. Trata-se, por isto, de um livro que se construiu a partir de um fluxo de lembranças.
• “Os ferimentos que o tio-bisavô Richard sofrera na Primeira Guerra Mundial, assim como a morte de seu filho (…) lhe conferiam (…) o estatuto de alguém a quem se devia um respeito quase sagrado.” A esse personagem era creditado um “sacrifício pela nação”. Como conviver — não só ele, mas também as pessoas ao seu redor — com esse peso?
Sim, esta é a grande questão desse livro: como conviver com o peso de tais histórias, de tais heranças? Fingir que estão esquecidas é uma alternativa, mas não me parece a melhor. Porque, mesmo esquecidas, elas estão aí e sua força se fará perceber. Meu livro é uma maneira de voltar a elas, de contemplá-las, isto é, de consagrar-lhes um espaço. Devo dizer que foi para mim um grande alívio escrever estes dois romances.
• Ao escrevê-los, o senhor tinha em mente leitores que também desejassem compreender essas histórias? Ou mesmo o interesse de seu filho por sua história familiar?
Não quero lhe parecer antipático, mas a verdade é que não estou pensando em leitor nenhum quando escrevo — muito embora, é claro, eu tenha a esperança de que o que estou escrevendo venha a ser lido por alguém no futuro. Mas não penso neste alguém — como ele será, o que ele estará ou poderá estar pensando. Só tenho a esperança de que o meu texto possa dizer alguma coisa a alguém. Existe um diálogo de Platão, intitulado Íon, cujo tema é, precisamente, a criatividade literária, que para os antigos gregos era compreendida como uma espécie de loucura, o que se denominava, em grego antigo, “mania”. O impulso narrativo é descrito neste diálogo platônico como uma força autônoma, um poder absoluto ao qual o autor se entrega ao criar. Não é um gesto que obedece a uma vontade pré-determinada e pré-concebida, nem serve a um objetivo determinado de antemão. Acho esta concepção de literatura muito atraente — especialmente diante da situação que vivemos hoje, de crescente “profissionalização” do autor, que é algo que me assusta muito. Creio que o papel do autor deve ser criar as condições para que este impulso narrativo constitua alguma coisa coerente, mas sem lhe impor, de antemão, rédeas e viseiras. E, muito menos, objetivos ulteriores. Não acredito em livros feitos por encomenda, nem em temas escolhidos de antemão em função de qualquer objetivo que não seja o prazer da escrita, isto é, a satisfação do impulso narrativo.
• Esse tio Richard foi psicólogo em Tel Aviv e escutava “os soluços de tantas almas despedaçadas”, de exilados, membros de famílias destroçadas, pessoas que pairavam entre dois mundos. Foi essa a sua tarefa na escrita de Deserto?
Acho que, em parte, tomei para mim este papel de escutar e também de deixar registrado o que escutei. Talvez seja uma boa homenagem aos personagens que aparecem no meu romance…
• Escrever o segundo romance foi mais fácil? O que lhe dá mais prazer no processo de escrita?
Não gosto de fazer comparações. Cada trabalho corresponde a uma realidade própria e traz consigo suas dores e suas delícias. Qual é melhor? Qual é mais fácil? Qual é mais bonito? Não sei responder. Cada qual é, e não é, todas estas coisas ao mesmo tempo. Um romance é um pouco como uma longa viagem e, como tudo na vida, tem seus altos e baixos, seus momentos de prazer e seus momentos dolorosos. Quanto ao prazer da escrita, sim, ele existe, é claro, e faz parte de todo o processo. Vou confessar uma coisa a você: sou um cara bem pedante na hora de escrever. Escrevo tudo à mão, primeiro, e preciso ter uma boa caneta, boa tinta, bom papel — coisas que não são tão fáceis de se encontrar hoje em dia. A caligrafia é uma coisa muito importante para mim. E também uma boa mesa de trabalho e um bom chá. E silêncio. E, se possível, uma boa vista da janela. Acho que tenho muita sorte de encontrar todas estas coisas, que para mim são os verdadeiros luxos, todos os dias. Ver um livro surgindo aos poucos nas páginas em branco é um grande prazer. Talvez o maior de todos os prazeres da escrita. Eu acho que os computadores são rápidos demais. Como sei digitar muito bem, porque trabalhei muitos anos na imprensa, em redações de jornais e revistas, acaba acontecendo que o meu pensamento não consegue acompanhar os meus dedos. Acho que é por isso que prefiro escrever à mão. O computador é um instrumento útil, mas também um tanto perigoso, com o qual é bem fácil a gente tropeçar. É como um carro que pode andar rápido demais e provocar um acidente…
• O que prende radicalmente os personagens de Deserto ao passado e à tradição, tornando-os incapazes de viver o presente e se adaptar a outras culturas, enquanto há os que rapidamente incorporam um novo estilo de vida?
Creio que seja, sobretudo, a constatação de que sua língua e sua cultura de origem — neste caso, a língua alemã dos judeus assimilados — se tornaram absolutamente desterritorializadas depois da destruição do judaísmo centro-europeu. Esta peculiar identidade judaico-alemã tornou-se, depois do que aconteceu na Europa, uma impossibilidade em qualquer lugar do mundo, uma cultura destinada à extinção. Conviver com esta realidade foi uma experiência muito dolorosa para uma geração que se sentia estrangeira em toda a parte, e ao mesmo tempo se sentia muito ligada à sua cultura original, pois para eles um retorno às terras de nascença se tornara moralmente inaceitável, já que nelas viviam, justamente, aqueles que assassinaram os familiares deles, os que não fugiram a tempo.
•Alguns de seus personagens estão distanciados da realidade, coletiva e/ou particular, isolados na idealização da terra natal. O primo Eugen, por exemplo, desiludido com a vida e imigrante deslocado, não age contra a situação em que se encontra. Este distanciamento ocorre por autodefesa ou alienação?O que os preenche?
O passado é perigoso pois tem também o poder de nos paralisar, de nos transformar em estátuas de sal. Acho que é a isto que se refere a situação do primo Eugen.
• Até que ponto passado e memória nos definem? O quanto isso continua a se refletir nas gerações posteriores? O personagem-narrador é seduzido pela idéia de progresso, modernidade, êxtase e riqueza que espera encontrar na Europa, “mundo civilizado e ordenado”, e parece não se identificar com seus familiares e com o mundo dos judeus exilados.
O personagem-narrador parece não ser capaz de se dar conta de que o retorno ao passado, às idealizações nostálgicas dos seus ancestrais, se tornara uma impossibilidade histórica depois da Segunda Guerra Mundial. Ele é um personagem um tanto patético, pois, tendo nascido no Brasil numa época em que o país vivia em sua plenitude a condição de Terceiro Mundo, vive a ilusão de que encontrará, na Europa, intactas, aquelas raízes perdidas para sempre da sua família, que, no entanto, evidentemente não existiam mais, senão em suas próprias fantasias.
• Como as novas gerações lidam com esta questão? Elas vêem suas raízes como perdidas ou uma nova história familiar começa a ser construída?
Não há dúvidas de que uma nova história está em construção. As raízes da terceira geração de descendentes dos imigrantes já se encontram, inteiramente, no país em que nasceram e desvincularam-se, para o bem e para o mal, de uma cultura peculiar, praticamente extinta em nosso tempo; de uma cultura que, portanto, cada dia mais, se torna uma fantasmagoria.
• A identidade é a principal busca do imigrante? Para as gerações seguintes, no caso do Brasil, ela é simplesmente brasileira ou é mais complexa?
Num país como o Brasil, formado, em sua maioria, por descendentes de imigrantes, e além disto marcado por profundas diferenças regionais, decorrentes das suas próprias dimensões, me parece difícil falar em “identidade brasileira”. Qual identidade brasileira? A do sertão nordestino? A das cidades do Sudeste? A dos gaúchos? A questão é mais complicada do que isto. De qualquer forma, temos a felicidade de viver num lugar e numa época em que é facultado a cada um, imigrante ou não, construir a própria identidade. E isto me parece extremamente precioso. E bem mais importante do que a busca por rótulos.
• E quanto à literatura? Ela pode contribuir para a formação ou consolidação da identidade de um povo?
Creio que a literatura, a literatura digna de tal nome, contribui para a formação e a consolidação de subjetividades. Isto me parece bem mais interessante do que a aquisição de identidades coletivas ou nacionais, que são sempre coisas impostas de fora para dentro.
• Uma das formas de os personagens preservarem sua cultura é através dos livros. Suas bibliotecas eram perdidas e reconstruídas à medida que migravam. Como foi seu contato inicial com a literatura?
Venho de uma casa na qual a literatura era considerada muito importante. Ler era visto como uma atividade fundamental para formação do espírito, e para a vida do espírito. Como sou o filho mais novo, tinha muita inveja de todos os demais membros da família, que já sabiam ler enquanto eu tinha que me conformar com o analfabetismo. Por isso, desde cedo, me interessava muito pelas letras e, sobretudo, pelas línguas. Me alfabetizei muito cedo, antes do pré-primário, com a ajuda de minha mãe e de minha irmã. Na minha casa se falavam e se liam muitas línguas: além do alemão e do português, que eram as línguas do quotidiano, havia o ídiche, da família da minha mãe, e também o inglês, que era a língua na qual meus avós e meus pais falavam quando não queriam que nós compreendêssemos o que estavam dizendo. Era evidente para mim que, para poder participar do fascinante mundo dos adultos, seria preciso saber ler e conhecer essas línguas. Mas talvez o meu primeiro contato realmente intenso com a literatura tenha se dado no fim da adolescência. Eu estava em férias de verão, numa praia semi-deserta, em condições muito, mas muito espartanas mesmo, e resolvi me aventurar em ler A montanha mágica, de Thomas Mann. Felizmente não havia quase distrações naquele lugar, de maneira que me dediquei a esta leitura durante todas as tardes, nessas longas férias. Acho que foi aí que descobri que a literatura era minha grande paixão.
• Nesse período de formação, o senhor chegou a buscar (e encontrar) na literatura respostas para suas origens e para o sentimento de desterro?
É claro que foi na literatura que encontrei não só as respostas para minhas origens familiares e para a questão do desterro mas, sobretudo, as perguntas em torno desta questão — perguntas que nem eu nem ninguém do meu meio era, até então, capaz de formular. Acho que saber perguntar é mais importante do que encontrar a resposta, pois as certezas que temos neste mundo são muito poucas. Por meio da leitura de autores como Joseph Roth, Arthur Schnitzler, S. Y. Agnon, Bruno Schulz, Alfred Döblin, Jakob Wassermann, Franz Werfel, Aharon Appelfeld, Elias Canetti e tantos outros tive a oportunidade de conhecer melhor o mundo de onde vieram meus antepassados, e assim de compreendê-los melhor, com suas dúvidas, anseios, ilusões e perplexidades.
• Hoje, como é sua rotina de leitura? De que maneira elege os livros a serem lidos? Quais autores lhe são imprescindíveis?
Alguns dos imprescindíveis, daqueles aos quais eu volto sempre, estão na lista acima. Mas tenho minha rotina de docente e de pesquisador da USP. Meu trabalho acadêmico é, em parte, voltado sobre este mesmo universo, e exige muita leitura. Mas me dedico igualmente à literatura hebraica e ídiche, de autores como David Vogel, I. B. Singer, A. B Yehoshua, Y. C. Brenner. Outras vezes sou convidado a resenhar livros, o que também me leva a descobertas interessantes. Há pouco tempo, por exemplo, resenhei um livro de um autor fenomenal, da vanguarda européia dos anos 1920, que não conhecia: trata-se de Max Blecher, um escritor fantástico, de língua romena, que só agora está sendo redescoberto, de quem li Acontecimentos na irrealidade imediata. É um livro imperdível, e está muito bem traduzido. Mas eu também tento sair dos limites deste universo. Gosto muito de W. G. Sebald, de Herta Müller, Orhan Pamuk, Claudio Magris, para não falar dos grandes clássicos como Tolstói, Proust, Flaubert, Balzac, Joyce, aos quais volto sempre que posso, sobretudo durante as férias. Tenho ambições cosmopolitas…
• Como foi a recepção de seus romances por parte de seus familiares e no exterior?
Na Alemanha, onde acaba de ser publicada uma tradução de Desterro, e também na Áustria, a recepção do livro tem sido bastante calorosa. O livro atraiu bastante atenção do público e da crítica e foi muito favoravelmente resenhado. Creio que, por referir-se a um universo que foi amputado dessas culturas, provoca muita curiosidade, já que nesses países todos parecem conhecer bastante bem a maneira pela qual os judeus foram perseguidos, massacrados e exterminados. Mas há bem menos gente que parece saber como viviam estes judeus de fala alemã. Ou como aqueles que escaparam a tempo do genocídio reconstruíram suas vidas em outras partes do mundo, conservando com zelo suas lembranças européias, a partir das quais criaram uma pátria metafísica. Quanto aos meus familiares, as reações foram as mais diversas — do riso ao espanto, da revolta ao encantamento, dependendo da passagem do livro em questão e, é claro, do leitor…
• Houve algum objetivo que o senhor gostaria de ter alcançado, mas, por algum motivo, não conseguiu?
Quando eu escrevo, não o faço com um propósito definido de antemão. A escrita vai se construindo por meio do ato de escrever. O artista plástico alemão Max Ernst disse, certa vez, que um mergulhador nunca sabe o que vai encontrar lá no fundo antes de descer. Acho esta afirmação aplicável a todas as formas de arte. Como eu já lhe disse, desconfio dos projetos tanto quanto dos objetivos…
• O tema do genocídio continua presente na literatura, mesmo em obras recentes, de autores que não o viveram. Ele aparece, mas não é tema de sua literatura. Acredita que ele se esgotou?
Os reflexos e as conseqüências deste acontecimento estendem-se, como longas sombras, sobre toda a história do século 20 e também sobre a atualidade. Portanto, seus ecos encontram-se, também, na literatura contemporânea, mesmo a praticada por autores que não foram diretamente atingidos. Essas marcas que a Segunda Guerra Mundial deixou nunca poderão ser obliteradas.