Revolução do sofá

O fracassado golpe de estado engendrado por um general trajado de pijama com estampas de aviõezinhos e pantufas de coelhinho
Ilustração: José Lucas Queiroz
08/01/2025

O bravo general da reserva, que, após anos da redentora atuação como interventor, decidiu arquitetar algo ainda mais ousado: um golpe de Estado. Só que, como bom aposentado, ele o fez sem tirar o pijama. Afinal, quem tem tempo de botar farda quando se tem uma sublevação para planejar entre a novela das 6 e o Globo Esporte?

O plano, elaborado com o esmero de quem decora as palavras cruzadas do jornal, tinha tudo para ser eficaz. O militar convocou um seleto grupo de seguidores — todos igualmente de pijama — para reuniões estratégicas que aconteciam no WhatsApp e nos churrascos de domingo. Foi aí que a nata da resistência nacional nasceu: tios do zap, o primo conspiracionista, o vizinho que acha que mão pesada é o que falta na CBF e um papagaio patriota que gritava “Fora! Fora!”.

Mas sejamos justos. O general tinha uma visão: ele acreditava, piamente, que seu motim seria algo que entraria para os livros de História. Contudo, só havia um pequeno problema: quando seus cúmplices, munidos de coragem e pochetes, perguntaram qual seria o planejamento para derrubar o governo, ele deu a ordem de ataque mais icônica da história militar brasileira: “Vamos marcar um protesto forte naquela padaria da Asa Sul. E tragam cartazes!”.

E assim, no dia D, com seu pijama de flanela azul e estampas de aviõezinhos, ele liderou a tropa de sua cadeira de balanço na sala. “Atenção! Vamos invadir o grupo do STF no WhatsApp e botar pressão!”, gritou com voz heroica, enquanto mergulhava uma bolacha de maisena no café com leite. Óbvio, a insurreição fracassou.

Um dos principais generais abandonou o movimento porque tinha consulta no cardiologista, outro confundiu o dia da mobilização com o encontro anual do clube de bocha, e o resto simplesmente esqueceu porque tinha jogo do Taguatinga contra o Confiança.

O fim do general golpista de pijama foi digno de um filme pastelão. As autoridades, após monitorarem os encontros suspeitos de churrasco, bateram à porta de seu apartamento. Ao ser levado pela polícia, ele exclamou: “Vocês estão cometendo um grande erro! Eu sou um patriota!”. A cena foi constrangedora. O herói da resistência, arrastado em pantufas de coelhinho, até o camburão da Polícia Federal.

Na prisão, o general segue liderando a revolução. Agora, organiza motins na fila do refeitório e escreve manifestos no papel higiênico. Seu grande plano é conquistar os corações dos carcereiros para que, um dia, o golpe triunfe. Enquanto isso, seus cúmplices, livres da cela, mas presos à vergonha, evitam falar sobre o incidente. O papagaio patriota, ao que dizem, mudou de lado e agora só grita “Sem anistia!”.

Carlos Castelo

É jornalista e escrevinhador. Cronista do Estadão, O Dia, e sócio fundador do grupo de humor Língua de Trapo. É autor de 18 livros.

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