Os jornalistas resolveram os problemas cruciais do conhecimento. Ao invés de uma memória fantástica, nascida de longos estudos, exibem o seu grande tesouro: a agenda, sem a qual não existe jornalista. Ali estão os nomes das pessoas que sabem, ao jornalista basta apenas entrevistá-las.
*
A globalização é uma invenção do jornalista, que fala de um livro publicado em Nova Iorque como se pudesse ser lido pelo Manoel da mercearia.
*
Na província, o leitor é um ser invisível, etéreo e, portanto, inexistente. Ele só ganha materialidade quando o escritor comete algum erro. Daí o leitor aparece e esfrega o pequeno equívoco no nariz de quem escreve.
*
Um traço da personalidade do paranaense. Lemos os livros de nossos amigos não por deleite, mas para descobrir os escorregões do pobre diabo.
*
Depois de distribuir centenas de seus folhetos, o maior contista da língua portuguesa não recebe nenhum comentário. Escrever bem, no Paraná, é autoexilar-se.
*
Damos espaços aos medíocres na mídia só para depois poder comentar a mediocridade deles.
*
Todo grupo de curitibano é uma pequena Boca Maldita. A maledicência é nossa maior ciência.
*
Quanto melhor o texto, mais mal ilustrado ele será. A qualidade da ilustração é inversamente proporcional à do texto. Que Deus nos dê a graça de sermos sempre mal ilustrados!
*
Escreva um artigo sério que o ilustrador faz alguns rabiscos infantis. Escreva algo alegre e a ilustração sai melancólica. Ah, nossa suprema arte de jogar areia no tanque do carro alheio.
*
Curitiba tem uma grande tradição gráfica porque lhe falta uma tradição literária.
*
A vanguarda democratizou as letras. Quem não sabe escrever, pode agora ser um escritor cult.
*
Depois de anos escrevendo nos jornais e de alguns livros publicados, os teus conterrâneos, quando te encontram, perguntam sempre o que tens feito.
*
O escritor local evita ler seus pares para não correr o risco de descobrir que existe alguém maior do que ele.
*
A popularização dos cursos de pós-graduação deu margens para que analfabetos escrevessem. Somos hoje um inculto país letrado.
*
Num trabalho acadêmico, a leitura começa pelo fim, ou seja, pela bibliografia. E ai de você se não encontrarem citados os nomes da moda.
*
Numa tese, não importa a propriedade do que fica dito, mas a forma de dizer e as citações colhidas ao acaso. Todo o saber acadêmico é um monumento ao nada.
*
O livro mais lido na universidade é o Dicionário de Citações.
*
A ciência universitária nada mais é do que a rarefação do lugar-comum.
*
O jornalista escreve mais do que lê. O jornalista sequer lê o que ele próprio escreve.
*
O crítico é o jornalista da literatura.
*
O jornalista só lê quando está pautado. Quem pauta o crítico é o mercado editorial.
*
Quem aprendeu a ler para aprender algo nunca de fato aprendeu a ler.
*
Teste de vocação:
Se você ri a todo momento: torne-se um músico popular.
Se você ri ao olhar-se no espelho: dedique-se ao teatro.
Se você ri quando vê alguém tropeçar: siga o caminho da crítica.
Se você ri quando os outros riem: siga a carreira jornalística.
Se você fica sério quando todos riem: siga a carreira universitária.