Vastas emoções

Durante 17 dias, a Praça da Alfândega se transformará em um dos maiores espetáculos literários do País. Parará é o Estado homenageado
01/11/2002

Até meados da década de 50, um dos maiores prazeres dos porto-alegrenses era caminhar pelas largas e arborizadas ruas que cercavam a Praça da Alfândega. Livrarias eram para poucos abastados. Cheias, mesmo, só no início do ano, quando a gurizada enlouquecia os pais com as listas de material escolar. Livros, nem pensar.

Mas essa idéia de que a literatura nos pampas era tão elitista deixava o jornalista Say Marques inquieto. Quando voltou de uma viagem que fez ao Rio de Janeiro, então, ninguém mais segurou o discípulo de Gutenberg. Uma cidade como aquela, já com seus consideráveis 400 mil habitantes, não poderia ficar de fora de um circuito literário. Por isso, na primavera de 1955, a tal praça foi tomada pelos livros. Foram erguidas 14 barraquinhas de madeira, todas em volta do monumento ao General Osório, e deu-se início à Feira do Livro de Porto Alegre.

Muita gente apostou a cuia e a bomba que o negócio não ia vingar. Ficaram sem o chimarrão. Há 47 anos a feira é uma das mais importantes do país. Entre 1º e 17 de novembro, a Praça da Alfândega volta a ficar cheia de gente caminhando. Com livros nas sacolas e nos braços. A Feira do Livro de Porto Alegre é a maior em espaço aberto da América Latina. Em 2001, a feira recebeu cerca de 1,6 milhão de visitantes, com 190 expositores, além de apoiadores e veículos de comunicação. Além disso, foram organizadas 621 sessões de autógrafos com 1,5 mil escritores. A Câmara Rio-Grandense do Livro registrou um total de 445 mil livros comercializados no ano passado. A agenda da feira contou com 124 eventos, entre seminários, mesas-redondas, palestras e encontros, 59 espetáculos de palco para público adulto, oito exposições, entre outros eventos e oficinas.

Se a última feira for parâmetro, nesta primeira quinzena de novembro a Praça da Alfândega será invadida por mulheres gaúchas e adolescentes. De acordo com uma pesquisa realizada pela assessoria de imprensa da feira, em 200, 57% dos visitantes eram do sexo feminino. E 28,7% tinham entre 13 e 17 anos. A maioria era porto-alegrense (68,3%) e estudante (36,5%).

Mas a organização acredita que a feira deste ano será diferente. Muito mais abrangente do que as anteriores. Vários segmentos — sociais e artísticos — vão integrar o evento: terceira idade, comunidade surda, tradicionalistas, arquitetos, cineastas e roteiristas, artistas plásticos, ambientalistas, comunidade acadêmica, gastrônomos, escritores, editoras, entre outros.

Paraná será homenageado
Os livros de escritores paranaenses ficarão em lugar de destaque durante a feira. Todos os outros expositores deverão deixar seus produtos em barracas, ao redor da Praça da Alfândega. Mas o material dos paranaenses, não. Como o Paraná é o Estado homenageado, terá um estande especial. Com direito a computador, ar condicionado e mesinhas.

A Imprensa Oficial e o Governo do Estado do Paraná, então, capricharam na escolha dos livros e escritores que participarão do evento. Durante a feira, estarão expostos 100 títulos dos autores mais representativos da terra das araucárias. Alguns escritores, que participarão de mesas-redondas, debates ou palestras, farão sessões de autógrafo. Não necessariamente de lançamentos. Mas dos livros mais recentes. Entre os escritores convidados estão Domingos Pelegrini, Cristovão Tezza, Roberto Gomes e Manoel Carlos Karam. Todos participarão de um debate sobre a literatura paranaense e de sessões de autógrafo. Pelegrini autografa Notícias da chácara; Roberto Gomes, Os dias do demônio; Karam, Pescoço ladeado de parafusos.

Durante os 17 dias de feira, haverá, ainda, outras oportunidades para debates sobre a arte literária no Paraná. Cronistas londrinenses como Nilson Monteiro (mediador), Paulo Briguet e comentam suas experiências de vida e contam causos. Jornalistas que trabalham com a área de Cultura em jornais curitibanos debatem a existência ou não de um jornalismo cultural de qualidade no Paraná. Estarão presentes o editor do Rascunho, Rogério Pereira, e o editor do Caderno G, da Gazeta do Povo, Paulo Camargo. O mediador do encontro será o gaúcho Paulo Bentacur.

Em uma outra mesa, que aglutina artistas que transitam pela literatura e também por outras áreas, acontece o evento Um pouco além da literatura. Foram convidados os paranaenses Alice Ruiz, Ricardo Corona, Ernani Buchmann, Carlos Dala Stella e Sylvio Back.

Como era de se esperar, haverá um evento destinado ao poeta-compositor-escritor-publicitário-multimídia Paulo Leminski. Além da exibição de um vídeo, o escritor Toninho Vaz comenta a trajetória do poeta que deu nome à pedreira mais famosa de Curitiba. Vaz também autografa o livro O bandido que sabia latim, biografia de Paulo Leminski. No final, um show com a banda curitibana Blindagem.

Paulo Venturelli, Walmor Marcelino, Foed Castro Chama e Jair Ferreira dos Santos participam de uma mesa para a discussão de questões teóricas como a poesia contemporânea e o pós-modernismo. Para finalizar, Marcelo Sandmann, Ademir Demarchi, Maurício Arruda Mendonça, Rodrigo Garcia Lopes, Marcia Helena Sut e Fabrício Carpinejar falam sobre a poesia contemporânea.

Rascunho
O Rascunho será um dos destaques da Feira do Livro de Porto Alegre. No estande paranaense estarão disponíveis 5 mil exemplares da edição de novembro. Com dois anos e sete meses, Rascunho — uma publicação da editora Letras & Livros, em parceria com o Jornal do Estado, de Curitiba — é um dos principais jornais dedicados exclusivamente à literatura no Brasil. Lançado de forma independente, já está em sua 31ª edição.

 Toda a programação da 48ª Feira do Livro de Porto Alegre está disponível no site www.feiradolivro-poa.com.br

Rascunho

Rascunho foi fundado em 8 de abril de 2000. Nacionalmente reconhecido pela qualidade de seu conteúdo, é distribuído em edições mensais para todo o Brasil e exterior. Publica ensaios, resenhas, entrevistas, textos de ficção (contos, poemas, crônicas e trechos de romances), ilustrações e HQs.

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