Robert Frost
Dezembro não se desvencilha
Das formigadas ruas de agonia
E fingimento.
Este não seria o tempo
De você perder o trem dos imigrantes?
E outra vez mandar o seu poema
Aos surdos dele,
Verdugos que em dezembro
Choram?
…
As lições
O tempo de ter perder foi quando os coxos
Os cegos e os inválidos
Andaram desrumados frente à tua porta
Mais que eu
Agrimensor dos longes
Para teus olhos de ânsia na míope
Neblina.
…
Como histórias de calvino
Num quintal de Paris
Sultão revolve a lixeira.
— Ali terá o acossado
feito esconder as minhas turmalinas —.
“Mal dissimulo
ao afirmar desconhecido
o que incendiou o corpo do cadáver.”
— Luiz ou é Borges
quem o escreveu? —
pergunta-se o editor.
E mentirá de novo: “estou
no encalço dos seus originais”.
Adiante esquecido: “o título
que a eles deu?”
Enquanto caça enredos
Cavedagna recorda melancólico
seus preferidos livros de um dia.
Faziam-no sonhar porque
nascidos de nomes invisíveis.
…
Billie holiday
O rio afogou o carteiro,
Minha lágrima em papel.
Alfândega do meu passo,
A única ponte
Dele sumiu.
Oeste, sul, norte:
A soçobrar
No rio estou.
…
Estância
Vivi aqui
Antes destes caibros decaídos
Rangendo violoncelos.
Sem rumo
E com as desgraças de aprendiz
Fitei durante década
O lado escuro do céu
Agora a inundar os aposentos
Do que não foi um dia
— Cinzas.
Restam as lendas
Deambulando
De viga a viga, como pêndulo
Que aprisionasse noutro tempo
Uma Medéia
E teu torturado.