Hoje em dia — conversa sobre a literatura brasileira atual

Todo mundo leu, esses dias, um artigo de Walnice Nogueira Galvão, na Folha de S.Paulo
Walnice Nogueira Galvão
01/04/2002

Todo mundo leu, esses dias, um artigo de Walnice Nogueira Galvão, na Folha de S.Paulo, caderno Mais! de 17 de março último, sobre a medonha, depauperada, terminal situação da arte e da literatura em nossos duros tempos, na opinião dela, é claro. (“Todo mundo”, como dizia o Paulo Francis, é sempre a meia-dúzia com quem nós conversamos.) E pelo que deu pra perceber, todo mundo estranhou — até o Marcelo Coelho saiu de seu habitual comedido para argüir a inconsistência do raciocínio de Walnice, que para meter o chanfalho na pobreza estética de nossos dias demarcou o começo da decadência no surgimento da imprensa, do jornalismo e do livro impresso.

Pode ser que ela tenha razão, como pode ser que ela tenha se atrapalhado nas datas. Porque, a ter ela razão na idéia de que a decadência remonta ao Cabral dos tamancos, na altura em que Da Vinci e Michelangelo apresentavam ao mundo suas criações, estaríamos numa espécie de entaladela final: pois se cinco séculos não fizeram mais que decair, é de imaginar o buraco em que estamos, e há tanto tempo. E é de imaginar que altura imensa era essa, que existia então e que nunca mais ocorreu.

Estimo que a ensaísta tenha se enganado na datação. E mesmo seu artigo, logo em seguida, envereda por outra senda, aquela que vai localizar como símbolo do horror atual nos limites nacionais brasileiros, se entendi bem, tanto a rede Globo quanto os apologistas do “padrão Globo de qualidade”, que ela jocosa e acertadamente traduz como “padrão Ipanema de anseios”. A propósito, não há como negar a Walnice uma grande capacidade para sintetizar num trocadilho todo um lance crítico. Assim foi com seus clássicos ensaios de Saco de gatos, em que metia o dedo na ferida bem-pensante da esquerda brasileira, e assim foi agora, no citado artigo, quando por exemplo dividiu as publicações de cultura atuais, no Brasil, em dois grandes grupos — as digestivas e as indigestas, respectivamente aquelas produzidas comercialmente e as outras, produzidas na academia.

Por aí se pode começar a pensar o tema deste ensaio de raciocínio, destinado a tentar algum diagnóstico sobre a situação da literatura no país neste tempo que nos toca viver. “Aí” quer dizer tanto o belo trocadilho de Walnice, quando a supersimplificação que aí se embute, dispondo em campos antagônicos e excludentes o mercado e a academia. Que haja os dois campos, e que eles possam ser assim nomeados, me parece fora de dúvida; mas que isso resuma o estado da arte na matéria, acho pouco ou, mais propriamente, equivocado.

Três vezes a mesma coisa
Por uma dessas impressionantes casualidades, três diagnósticos recentes, por três ilustres e respeitáveis figuras — desiguais entre si, nenhum deles entre as minhas preferências intelectuais, mas todos bons e argutos leitores —, coincidiram em detectar em nosso tempo, e para nosso país, um quadro de horror literário. Mais ainda: contra qualquer positividade que vários outros analistas já enxergaram em outros momentos ao pensar sua respectiva época, os três leitores brasileiros atuais estipularam uma mesma época como a derradeira fulguração da literatura artística entre nós, o último momento em que de fato as coisas funcionaram como deviam, o fim da literatura-arte e começo do horror dos infernos. Adivinhou qual é a época? E se eu disser que os três são a já mencionada Walnice Nogueira Galvão, mais Alfredo Bosi (no artigo Os estudos literários na Era dos Extremos, citado por Walnice, estampado em Antonio Candido. pensamento e militância, Fundação Perseu Abramo / editora Humanitas, 1999, organização de Flávio Aguiar), e ainda Leyla Perrone-Moisés em artigo para a mesma Folha de S. Paulo (18 de junho de 2000, caderno Mais!), ajudo a matar a charada?

Pois foi isso mesmo que o leitor mais atilado já sacou: para eles, passados os anos 60 tudo mudou, tudo acabou, o horror venceu a guerra. Variando na aparência e no varejo, os três são unânimes em dizer que até ali tudo andava a contento, e a inteligência tinha como encontrar caminho literário; depois, a debacle. A rede Globo tomou conta do cenário, democratizou-se a informação e a literatura entrou no circuito das mercadorias (Walnice); apareceu um mal-estar derivado da sensação de que não há mais grandes autores (Leyla); a literatura passou a operar entre os limites do brutalismo hipermimético e do desconstrucionismo hipermediado (na boa imagem de Bosi). O resultado é o horror: Paulo Coelho, o vale-tudo do mercado, a hegemonia dos meios de comunicação de massa, a depreciação da educação e da leitura dos clássicos, finalmente a banalização do debate acadêmico na forma da conversa dos “estudos culturais”, que são no fundo mera revivescência do velho conteudismo, que despreza o âmbito propriamente estético.

De acordo, meu prezado leitor? Num primeiro lance de olhos, me parece quase perfeito o caminho crítico. A perda de relevância da literatura coincide com isso tudo mesmo. A sociedade de massas, aqui nesta periferia talvez mais do que no centro do sistema ocidental, de fato oferece sucedâneos triviais para a fome de arte — os quadrinhos, a telenovela, a canção popular, etc. E os governos que temos tido se encarregam do resto: abastardam o ensino público ao limite do inconcebível, privando as escolas de terem giz e livros; pagam muito mal os professores; as políticas de financiamento da cultura acabam prestigiando os megaeventos, sem atenção à qualidade; etc. De forma que a tendência será a de aceitar o juízo de que chegamos ao fundo do poço, com muita porcaria televisiva e massiva e, quando há literatura, ela já está integrada rebaixadamente no circuito das mercadorias, sendo hipermimética ou hipermediada, logo porcaria também. Então não há o que falar sobre ela, se nossos três comentadores tiverem razão. A melhor hipótese será, talvez, o suicídio coletivo.

Sim? Aí é que entra a restrição: diria eu que se trata de certa perda de relevância, um fenômeno perfeitamente histórico. (Sem contar outra restrição, de foro íntimo: sempre que leio ou escuto gente decretando a banalidade do presente e a maravilha do passado, além de lembrar Luís XIV e seu “D’après moi le déluge”, eu saco logo um par de conceitos críticos da cachola e lembro que isso, esse modo de pensar, faz parte do jogo romântico em que ainda estamos metidos.) Nossos três professores, sob a aparência de um raciocínio histórico de inflexão crítica, o que fizeram foi praticar o mais deslavado anti-historicismo, colocando no centro de sua avaliação sua própria experiência geracional como paradigma — o dos anos que acabaram em 68, para ficar na data conhecida —, e paradigma naturalizado, pelo que acabam atribuindo aos tempos de agora, de 70 a hoje, valor apenas negativo. E daí tudo será coisa ruim, rebaixada, ou aderente ao padrão Globo, ou ruim porque hipermimético ou hipermediado.

Quero dizer: esse próprio juízo deve ser submetido a uma compreensão crítica, porque ele, talvez mais do que o objeto de que trata, é que me parece submetido ao horizonte ideológico de nosso tempo. Walnice, Bosi e Leyla, cada qual em seu estilo, comentam as coisas literárias num ambiente com aparência de histórico, que no entanto é idealista, extra-histórico: porque condenam a literatura do presente, ou dos últimos 30 anos, como coisa ruim, sem atentarem para o fato de que seus conceitos são históricos, e não transcendentes.

Ainda que se possa argumentar a favor da permanência de certas premissas no âmbito da narrativa desde Homero, por exemplo, é certo que as coisas mudam, da produção à recepção. Para lembrar um exemplo famoso, basta pensar que o romance, a forma chamada romance, era tida, no século 18, como coisa de gente semialfabetizada, justamente porque era linear, escrito em prosa e portanto acessível a qualquer um — logo, era ruim, rebaixado, trivial; e não terá faltado um Bosi na época para chamá-lo de hipermimético; prestígio tinha a epopéia, o teatro convencionado na regra neoclássica, etc. Mas a história caminha, e nem sempre na direção dos desejos daqueles que julgam ter ou têm mesmo as melhores capacidades de apreciação estética; esse é um dos preços, e não o menor, da vida democrática.

Um quadro atual
Vistas em panorama as coisas, é de concluir que a negatividade do diagnóstico talvez se explique pela posição dos três analistas, que, para além de, e talvez contra, sua clara filiação aos pontos de vista da esquerda, regra geral, parecem olhar as coisas pela lente conservadora de sua geração e mais genericamente da Universidade, para o bem (a consideração da tradição) e para o mal (o rechaço das novidades, que podem ser boas e muitas vezes o são). Daí se impõe a pergunta, para quem acha que o apocalipse ainda não chegou — como eu e o leitor: será possível enxergar alguma positividade na literatura brasileira de nossos tempos?

Claro que sim. Antes de falar da geração que agora se apresenta, vamos ver o cenário mais amplo que aqueles três juram que é pavoroso. O leitor convirá comigo que não estamos no fim do mundo se eu lembrar que temos, vivos e sãos de lombo, atuantes sempre, escritores como Carlos Heitor Cony, Dalton Trevisan, Ariano Suassuna, Millôr Fernandes, Rubem Fonseca, Hilda Hilst, os três paladinos do originais do Concretismo, Lygia Fagundes Telles, João Ubaldo Ribeiro, Luis Fernando Verissimo — todos eles com obra provada, para além do gosto meu ou do leitor. E poderia desfiar uma listagem impressionante de bons escritores em plena atuação: Moacyr Scliar, Ignácio de Loyola Brandão, Roberto Drummond, Ana Miranda, Francisco Dantas, Aldir Blanc, Cristóvão Tezza, Luiz Antônio de Assis Brasil, Sérgio Faraco, Nélida Piñon, Ivan Ângelo, Sérgio Sant’anna, Chico Buarque, Márcio Souza, Antônio Torres, Valêncio Xavier, Wilson Bueno, João Gilberto Noll, o inativo Raduan Nassar, Lya Luft, o quase genial Carlos Süssekind, todos, salvo deselegante erro de minha parte, acima dos 50. E quase não mencionamos poetas, para evitar controvérsia maior.

Ou então falemos de poesia sim: quando morreu João Cabral, uma das perguntas reiteradas da mídia e da academia foi “Quem é o novo maior poeta da língua?” E toca-lhe Ferreira Gullar, os Campos, Adélia Prado, entre tantos outros de menor alcance ou expressão. Ocorre que, a meu juízo, a pergunta não encontraria jamais uma resposta satisfatória, porque desde seu nascimento tinha um destino torto: para dizer de modo breve, perguntar pelo “maior” supõe uma homogeneidade social e cultural que estamos longe de ter. Até os anos 50, talvez começo dos 60 — justamente a mesma época em que nossos três ensaístas atuais vislumbram o início do fim da literatura nacional —, a idéia que fazíamos de Brasil era tão serena, tão mirrada, tão acanhada, tão simples, comparando com nosso tempo, que era fácil encontrar (ou decretar — nunca esqueçamos a enormidade de besteiras nas apreciações de contemporâneos) um Maior. (Aposta: numa votação secreta em que cada um de nós apontasse o artista que de fato marcou nossa vida, proporcionando-nos uma experiência estética total, fulminante, irrevogável, o resultado daria Caetano Veloso ou Chico Buarque.)

O caso é que o país ficou muito mais complexo, mais matizado, justamente naquele período — e não dá para elidir o fato de que aqueles três professores citados se formaram, sem exceção, no mundo anterior a essa megamudança; a capital deixou de ser a cidade que vinha protagonizando a cultura brasileira desde o começo do século 19; inverteu-se a proporção entre a população rural e a urbana, fruto da industrialização acelerada, com êxodo rural e coisas que ainda hoje não resolvemos adequadamente. O mundo todo, aliás, mudou: apareceu a pílula anticoncepcional, a rede nacional de televisão, o celular. A ordem internacional das coisas, da exploração de matéria-prima a alocação de investimentos e a produção de tecnologia, alterou-se barbaramente, ficando por um lado mais concentrada na sede do Império vitorioso da Guerra Fria e por outro mais disseminado ao redor de todo, rigorosamente todo o planeta. Daí que tentar encontrar alguma unanimidade, daquelas que se resolviam num lance de olhos dado o acanhamento do cenário disponível, ficou impossível, ponto. Por outro lado, não há mais como considerar como critério absoluto um grupo social tão restrito quanto as frações-de-classes-médias-e-altas-bem-educadas-e-residentes-no-Rio (ou nas províncias mas com o olho na velha capital) — estas são, afinal, as “elites” intelectuais que definiram o gosto brasileiro até aquela época.

Diversidade quer dizer isso mesmo, várias possibilidades de fala, sobre várias possibilidades de tema, sem unanimidade. Para quem tem saudade das coisas mais nítidas, como no tempo em que o tema único do país era o sertão, mais próximo ou mais remoto, ou seu antípoda, a industrialização de São Paulo, ou como no tempo em que o mundo tinha dois pólos e a gente sabia imediatamente de que lado estava, talvez a novidade da multiplicidade seja desconfortável. Mas não era justamente isso o que queríamos nós, os que lutamos pelo aprofundamento da democracia em todo nível, incluindo a expressão literária?

Então, é de perguntar: com aquele plantel de escritores, pode-se dizer que vivemos um período ruim, em matéria literária? Sinceramente, creio que não, de jeito nenhum. Claro que um espírito estreitamente positivo poderia contra-argumentar que todos eles, com uma ou duas exceções, começaram a produzir nos anos 60 e mesmo antes, de forma que pertenceriam ainda àquele período que os três comentaristas julgam o último a valer a pena, antes do Caos. Ocorre que não, digo eu, porque todos eles estão sendo efetivos agora, nos tempos da mesma rede Globo tidos como o inferno. Começaram lá, mas se validaram depois — e não é isso que se espera da obra de qualquer artista?

Novíssimos
A geração de hoje, quem é? Tem entre 30 e 50 anos, e portanto já vive uma vida muito diversa daquela que nos anos 60 ganhou o mundo quase de bandeja — praticamente bastava ter menos de 30 para tudo caminhar a favor, para ter algum prestígio, para ganhar platéia (a crônica de Nelson Rodrigues é um dos melhores diagnósticos negativos do tempo). Hoje, em função de maturação do mercado, nem mesmo no mundo da música pop tal idade é a regra. Pode-se acrescentar: a novíssima geração é universitária, talvez como nunca antes; trata-se talvez da primeira geração alcançada pela relativa democratização da universidade, na virada dos anos 60 para os 70 (de brincadeira, poderia dizer que os novíssimos de agora são os alunos dos negativos Walnice, Bosi e Leyla). Mais uma vez salvo alguma exceção, a presente geração não provém das elites de antes, e pelo contrário se compõe majoritariamente de gente que tem na escrita uma profissão (está crivada de jornalistas, professores e publicitários). É gente afluente, para dizer numa palavra deselegante mas precisa — gente que em boa parte só pôde começar a se expressar porque o mundo da imprensa e dos meios de comunicação de massa expandiu-se enormemente.

Um parêntese: ainda não avaliamos satisfatoriamente o peso daquele intervalo realmente criativo que foram os anos 60 nos nossos critérios de avaliação ainda hoje. É porque dá vontade, mesmo, de tropeçar com um Tropicalismo a cada década, com um José Celso Martinez Correa a cada tanto, com um Hélio Oiticica a cada bienal. Mas não é assim, ao longo da história, como sabemos. De forma que é compreensível a fantasia que centraliza tão absolutamente a experiência da geração dos três analistas, mas tem que ser flagrada em sua natureza de fantasia.

Que temos literatura hipermimética hoje, é fora de dúvida. Aí estão Paulo Lins e Ferrez, neonaturalistas, e aí está Marcelo Mirisola, idem mas febril. (Mas reclamar disso, do hipermimetismo, pelo menos nestes três casos, faz lembrar a resposta de Picasso aos generais alemães que observavam sua Guernica na exposição, em Paris, e lhe perguntavam se era ele mesmo, Picasso, quem havia feito “aquilo”; Picasso respondeu: “Não, foram os senhores”. Pano rápido.) A lista desta família espiritual poderia aumentar, com alguns nomes apreciáveis como Luiz Ruffato, Marcelino Freire, André Sant’anna, Paulo Ribeiro, Fausto Fawcett e Nelson de Oliveira, pelo menos. (Para registro: a antologia que este último organizou, com contistas recentes, para a editora Boitempo, é exemplar para entender o quadro.)

Há também uma vertente mais lírica, ou mais meditativa, que se expressa em conto ou novela, com ótima e boa expressão. Eu lembraria os casos de Milton Hatoum, Bernardo Ajzemberg, Marcelo Coelho, Bernardo Carvalho, Marilene Felinto, Michel Laub, Miguel Sanches Neto, Cíntia Moscovich e Cláudio Galperin, este com uma especulação formal produtiva (nada de “hipermediação” anódina) aparentada dos ousados Vitor Ramil, Luiz Sérgio Metz, Fernando Bonassi e mesmo de um azedo como Diogo Mainardi. Há toda uma vertente ligada ao humor, com intercursos proveitosos com a televisão e o cinema — coisa que as gerações anteriores queriam e não tiveram —, como é o caso de Fernanda Young, Cláudia Tajes e José Roberto Torero.

Não falei em poesia, terreno em que temos alguns provados como Glauco Mattoso, Arnaldo Antunes, Elisa Lucinda, Martha Medeiros, Marco Lucchesi, isso para ficar com muito poucos, muito desiguais e muito interessantes, cada qual em sua praia. Citaria com facilidade duas dezenas de nomes de poetas jovens, a começar pelos meus conterrâneos Paulo Becker, Ricardo Silvestrin, Fabrício Carpinejar, ainda sem recorrer a nenhuma das revistas de poesia recentes, que, sendo digestivas ou indigestas, têm dado curso a vocações que numa dessas vão desabrochar, na proporção de sempre, provavelmente, isto é, poucos para muitos candidatos. (Mas poeta é aquilo: só e mesmo poeta aquele que continua sendo, que valida sua linguagem na retina dos leitores, na hora ou depois.)

De forma que, tudo somado, eu diria que estamos numa situação de grande fertilidade. A democratização da informação, incluindo os crimes cometidos pela televisão ordinária e o crime imenso cometido diariamente pela porcaria de escola pública que temos (sem dinheiro para organizar minimamente uma biblioteca) — crime que devemos sempre denunciar e combater, como de resto fizeram também aqueles três lamentativos comentaristas —, a democratização, enfim, não significou apenas o fim de uma era. Também significou o surgimento de inúmeras vozes novas, que ainda ensaiam para procurar a melhor impostação mas que certamente já dão o ar da graça. Vozes que foram mencionadas aqui apenas em parte, a pequena parte que acompanho por leitura, que não significa a totalidade do que se produz, nem de longe.

E isso tudo sem cogitar, ainda, de todos aqueles que não conhecemos, ou que não alcançam se expressar — como na vida social em geral, quantos einsteins não estamos matando a cada dia, de fome ou de bala traficante, antes que pronunciem a equação definitiva? —, porque estão na província remota, ou porque não desenvolveram sua linguagem a contento, ou porque morreram antes da hora. Quer dizer: bola pra frente, moçada, que falta muito a saber, e este mundo está aí e depende de nós.

Luís Augusto Fischer

É professor de Literatura Brasileira na UFRGS e escritor. Autor, entre outros, de Filosofia mínima —Ler, escrever, ensinar, aprender (Arquipélago).

Rascunho