Poemas de Lila Maia

Leia o poema "A hora de ser" e "Ferocidade súbita"
Lila Maia, autora de “As maçãs de antes”
01/06/2003

A hora de ser

É amargo ser ovelha
e ter atrás de si um rebanho.
Tento compreender a quietude das águas,
este bico de pássaro querendo vestígios
e chão.
Aquelas palavras ditas na mesa
são as mesmas que me levam
a ver o fundo desse verde escaravelho
percebendo que o buraco é aqui no peito
onde tenho inferno e estrela.

De porta em porta
abro janelas.

Ferocidade súbita

Escancarados passos dou em nome da paixão.
Sem nenhum tato o fogo avança
me devora cego,
depois me acorda:
estou só e degolada.
Entre pernas, dedos, segredos
o espaço desgrenhado do quarto.
Não dá para confundir ais e bem-te-vis
nem a braguilha aberta da calça.

Com o beijo, com a faca,
quase a um palmo da paixão,
te corto às cegas, sem memória.
O que respinga do quarto não é sangue,
é a minha boca molhada, acesa e sã.

Lila Maia

É maranhense. Autora dos livros de poemas: As maçãs de antes (Prêmio Paraná de Literatura 2012 e semifinalista do então Prêmio Portugal Telecom), Céu despido (2004, II Prêmio Literário Livraria Scortecci-SP) e A idade das águas (1997).

Rascunho