A hora de ser
É amargo ser ovelha
e ter atrás de si um rebanho.
Tento compreender a quietude das águas,
este bico de pássaro querendo vestígios
e chão.
Aquelas palavras ditas na mesa
são as mesmas que me levam
a ver o fundo desse verde escaravelho
percebendo que o buraco é aqui no peito
onde tenho inferno e estrela.
De porta em porta
abro janelas.
…
Ferocidade súbita
Escancarados passos dou em nome da paixão.
Sem nenhum tato o fogo avança
me devora cego,
depois me acorda:
estou só e degolada.
Entre pernas, dedos, segredos
o espaço desgrenhado do quarto.
Não dá para confundir ais e bem-te-vis
nem a braguilha aberta da calça.
Com o beijo, com a faca,
quase a um palmo da paixão,
te corto às cegas, sem memória.
O que respinga do quarto não é sangue,
é a minha boca molhada, acesa e sã.