Chuva forte, você com medo. “Não se preocupe”, ponderei, contando os segundos no relógio de pulso, certo de que nenhum raio cairia por perto naquele instante. Que um clarão solitário acompanhado segundos depois de um estrondo não muito forte era sinal evidente de que a lâmina celeste passara bem longe de nossas cabeças, considerando-se a velocidade da luz, verificável a trezentos metros por segundo a partir do lampejo na usina de cores e parando ao ouvir o trovão. Como contei até quatro, o epicentro da fúria de Urano estava a mais de um quilômetro de distância. “Este raio não é o deus ex machina que rouba a vida da heroína do romance. Em outros termos: não serei seu Sade, nem você minha Justine. Você sorriu e pude ler nos seus olhos a insuperável síntese das bonanças.