Georgia Douglas Johnson

Leia os poemas traduzidos "O coração de uma mulher", "Quero morrer enquanto você me ama", "Busca", "Meus pequenos sonhos" e "Velhos negros"
Georgia Douglas Johnson, poeta e dramaturga afro-americana
01/09/2024

Tradução e seleção: André Caramuru Aubert

The heart of a woman

The heart of a woman goes forth with the dawn,
As a lone bird, soft winging, so restlessly on,
Afar o’er life’s turrets and vales does it roam
In the wake of those echoes the heart calls home.

The heart of a woman falls back with the night,
And enters some alien cage in its plight,
And tries to forget it has dreamed of the stars
While it breaks, breaks, breaks on the sheltering bars.

O coração de uma mulher

O coração de uma mulher avança com a aurora,
Como um pássaro solitário, em voo suave, tão inquieto,
Longe das torres e vales da vida, ele vagueia
No rastro desses ecos o coração busca o lar.

O coração de uma mulher recua com a noite,
E nesse estado entra numa repugnante gaiola,
E busca esquecer que sonhou com as estrelas
Enquanto sofre, sofre e sofre nas grades que o abrigam.

I want to die while you love me

I want to die while you love me,
While yet you hold me fair,
While laughter lies upon my lips
And lights are in my hair.
I want to die while you love me,
And bear to that still bed,
Your kisses turbulent, unspent
To warm me when I’m dead.
I want to die while you love me
Oh, who would care to live
Till love has nothing more to ask
And nothing more to give?
I want to die while you love me
And never, never see
The glory of this perfect day
Grow dim or cease to be!

Quero morrer enquanto você me ama

Quero morrer enquanto você me ama,
Enquanto você me segura firme,
Enquanto o riso vive em meus lábios
E as luzes estão em meu cabelo.
Quero morrer enquanto você me ama,
E carregar para aquela cama quieta,
Seus beijos turbulentos, guardados
Para me aquecer quando eu estiver morta.
Quero morrer enquanto você me ama
Oh, quem faz questão de viver
Até que o amor nada mais tenha a exigir
E nada mais a dar?
Quero morrer enquanto você me ama
E nunca, nunca possa ver
A glória desse dia perfeito
Opalescer ou deixar de existir!

Quest

The phantom happiness I sought
O’er every crag and moor;
I paused at every postern gate,
And knocked at every door;

In vain I searched the land and sea,
E’en to the inmost core,
The curtains of eternal night
Descend—my search is o’er.

Busca

A felicidade fantasma que busquei
Sobre cada penhasco e charneca;
Parei em cada portão dos fundos
E bati em todas as portas;

Em vão procurei na terra e no mar,
Mesmo no âmago mais profundo
As cortinas da noite eterna
Descem — minha busca acabou.

My little dreams

I’m folding up my little dreams
Within my heart tonight,
And praying I may soon forget
The torture of their sight.

For time’s deft fingers scroll my brow
With fell relentless art—
I’m folding up my little dreams
Tonight, within my heart.

Meus pequenos sonhos

Estou dobrando meus pequenos sonhos
Hoje à noite no meu coração
E rezando para que logo possa esquecer
A tortura trazida de sua visão.

Pois os dedos hábeis do tempo riscam minha testa
Com arte implacável e cruel —
Estou dobrando meus pequenos sonhos
Hoje à noite, no meu coração.

Old black men

They have dreamed as young men dream
Of glory, love and power;
They have hoped as youth will hope
Of life’s sun-minted hour.

They have seen as others saw
Their bubbles burst in air,
They have learned to live it down
As though they did not care.

Velhos negros

Sonharam como os rapazes sonham
Com glória, amor e poder;
Tiveram esperança como os jovens têm
Pela hora dourada da vida.

Viram como outros viram
Suas bolhas estourarem no ar,
Aprenderam a esquecer a vergonha
Como se não se importassem.

Georgia Douglas Johnson
Nasceu em Atlanta, na Georgia (Estados Unidos), em 1880, mas passou a maior parte da vida na capital, Washington. Foi uma das figuras centrais no movimento de afirmação cultural negra Harlem Renaissance. Além de poeta, contista e professora de música, foi uma das primeiras dramaturgas negras dos Estados Unidos e ativista antirracista. Morreu em 1966.
André Caramuru Aubert

Nasceu em 1961, São Paulo (SP). É historiador formado pela USP, editor, tradutor e escritor. Autor de Outubro/DezembroA vida nas montanhas e Cemitérios, entre outros.

Rascunho