A professora Andrea Hossne, da USP, desde setembro do ano passado está lecionando na Universidade de Paris 8, onde ficará até julho próximo ministrando aulas de literatura brasileira, sobretudo a contemporânea.
Seu projeto de pesquisa ocupa-se da narrativa brasileira contemporânea e examina a produção literária da década de 1990 em diante, dando atenção também à literatura dita marginal.
“Recebo alguns livros, em geral de autores iniciantes, vou lendo tudo na medida das minhas forças e do tempo disponível”, disse Andrea Hossne, revelando que em Paris, juntamente com Rita Godet, professora de literatura brasileira, atualmente na universidade de Rennes, tenta fazer com que pelo menos as bibliotecas universitárias recebam em Paris livros que sejam um contraponto ao olhar estrangeiro que só vê o fenômeno Paulo Coelho. “Os livros brasileiros produzidos nos últimos 30 anos, com raríssimas exceções, estão ausentes das estantes por aqui”, disse Andrea, informando que “dias 5 e 7 de maio ocorrerá em Paris e em Rennes um colóquio sobre literatura brasileira contemporânea, dos anos de 70 até hoje. Ao mesmo tempo, acontecerá uma exposição das novas aquisições de livros feitas pela biblioteca da Maison du Brésil e pela da universidade de Rennes”.
Como sempre, faltou verba. A professora solicitou doações. “Fui direto aos autores, pedindo-lhes a colaboração. Tenho procurado obter exemplares de obras pertencentes a coleções inovadoras, como a Janela do Caos, da Nankin, ou lançadas por novas editoras sérias e com autores interessantes, como o pessoal da Livros do Mal, do Rio Grande do Sul, por exemplo.”
O poeta e editor Fábio Weintraub fez circular seu pedido entre alguns escritores. “Isso nos trouxe, por exemplo, os livros do Glauco Mattoso — as lacunas e a defasagem da biblioteca da Maison du Brésil são marcantes justamente no que diz respeito à década de 70 em diante, com a exceção de alguns nomes já bastante consagrados. Meu amigo e jovem escritor Bruno Zeni, por sua vez, a meu pedido, fez circular a solicitação dos livros entre alguns outros escritores. Além de livros, estamos pedindo — e recebendo! — revistas literárias.”
“O projeto todo é esse: completar as duas bibliotecas (Paris e Rennes) tanto quanto possível; expor as aquisições e fazer o colóquio, reunindo pesquisadores franceses e brasileiros. O colóquio está prontinho, apesar do pouquíssimo dinheiro que obtivemos até agora — parte dele para publicar aqui na França as atas”, explica Andrea.
Aos interessados, eis os informes básicos: COLLOQUE: La littérature brésilienne contemporaine (de 1970 à nos jours).Université de Haute Bretagne — Rennes 2 / Équipe d’Accueil ERILAR.Université Paris 8 — Vincennes Saint-Denis / Département d’Études des Pays de Langue Portugaise. Avec le soutien de la Maison du Brésil — CIUP.05 et 07 MAI 2004.Langues du colloque: français et portugais. Responsables scientifiques du colloque: Rita Godet (Rennes 2) et Andrea Hossne (Paris 8 / USP-Brésil). Contato: [email protected]
Iniciativas como esta decorrem de caminhos misteriosos, pois como sabemos o acaso tem leis que desconhecemos. Andrea Hossne é filha do ex-diretor da Fapesp e ex-reitor da UFSCar William Saad Hossne. Não foi o pai quem fez chegar à imprensa o que a filha está fazendo. Soube por e-mail repassado por alguns dos jovens escritores. E que solicitaram ajuda. “Se a imprensa esquece até autores consagrados, imagine o silêncio que impõe sobre nós, jovens, “ainda com poucos livros publicados”, disse o engenheiro Whisner Fraga, cujos contos de estréia lhe valeram prestigioso prêmio literário e a edição do livro.
Que os editores das páginas literárias reflitam sobre o desabafo, mais do que pertinente, e sobre as iniciativas em curso, de que os leitores ficam sabendo por acaso. Afinal, há gente de valor remando contra a maré.
Outra pauta mais do que oportuna seria uma visita aos blogs, que estão exalando pela internet os mais pertinentes murmúrios. Os blogs são o último reduto da liberdade. Cumprem a função antiga dos banheiros, onde os adolescente iam ler o que pais e professores proibiam. Agora, eles vão escrever! Estejam na primeira, na segunda ou na última adolescência.