Poemas de Claudia Pastore

Leia os poemas "Sapatos calados", "Mármore caliente" e "Tecelagem 21"
01/03/2004

Sapatos calados

A disposição das roupas fala,
Assim como falam os livros
No criado-mudo de quem os lê.

A desordem (aparente) da casa fala.
O guarda-chuva aberto num canto,
O recorte de jornal,
O extrato do banco.

As coisas assimetricamente dispostas,
A indisposição estomacal,
O desejo…

O desejo permanece mudo,
Pulsante-calado.

O desejo não se revela.
O desejo ronda
Os quatro cantos da casa.
O desejo não fala.

Mármore caliente

Permitir o fogo do sol
Que me chega aos poucos
Consumindo meu medo
Acendendo meu desejo
Com fluídos marmóreos
Aglutinados então
No momento sublime
Onde o lume
A luz suprema
Embriagará
Nossas almas
Num renascer
Completo
Compacto
Corpóreo.

Tecelagem 21

Eu não sei
O que acontece
Quando a gente
se parece
Com o inverso
De uma prece.
Parece mesmo
Que o pranto cresce
E diminui
A vontade de viver,
É mesmo o que parece.
E que tudo o que se sabe,
Não se parece
Com tudo o que se bebe.
E que tudo o que se come,
Pelo corpo não se consome.
O que acontece,
É que minha vida,
Vida não tece.
Tomara vida
A vida me desse!

Claudia Pastore

Organizou a antologia poética Quem sente somos nós.

Rascunho