Poemas de Cláudio Portella

Leia os poemas "Epigrama" e "Você e seu verbo"
01/03/2004

Epigrama

Não duvido que Jesus Cristo
nos dará uma vida eterna.
Minha dúvida é para que serve vida eterna.
A morte deveria ser uma chance
de começar tudo de novo.
Uma oportunidade para consertar as besteiras.
Endireitar os arrependimentos.
Consolar peso na consciência,
dor de cotovelo…
Em vez de comer do pão
e beber do vinho,
que tal café-com-pão?
Tome o cotidiano
em curtas doses,
como quem bebe pinga.

Você e seu verbo

Levava porrada como quem pedia beijo.
Tinha a faca mas não tinha o queijo.
Lia Augusto dos Anjos com imenso pejo
e repetia eu nada vejo eu nada vejo eu nada vejo.

Ouvia sempre a mesma canção: Memória da Pele.
Via sempre a mesma película: Candelabro Italiano.
Usava sempre a mesma roupa: camiseta e jeans.
Sonhava sempre o mesmo sonho: um demorado beijo
numa noite chuvosa em Paris.

Deixou a vida como se sai do banheiro.
Do mundo esperava dinheiro, dinheiro e dinheiro.
Circundava o arco-íris à procura de ouro.
Era uma pessoa empírica que não só possuía
as pernas estúpidas.

Cláudio Portella

É escritor, autor de Cego Aderaldo: A vasta visão de um cantador. Tem outros 12 livros publicados.

Rascunho