Conto 1
Era, desde pequena, muito dada a fantasias.
Para o pai, ela vivia no mundo da lua. A mãe mandava-a pôr os pés no chão. Nefelibata, ironizava o avô.
Morreu no mês passado.
Para escândalo da família, anda por aí como se nada tivesse acontecido.
Conto 2
O pai estava nas últimas, vítima de infarto.
Ela saiu de carro às pressas, com a roupa do corpo, viajou noite adentro, fez promessa para alcançá-lo em vida.
Venceu o cansaço com recordações da infância e da adolescência. Perdoou, enfim, o velho. Era boa gente. Ranzinza e autoritário, mas boa gente.
A vinte quilômetros de casa, o motorista de um caminhão dormiu ao volante, atravessou o asfalto, colheu-a de frente.
O pai salvou-se. Protegido pelo médico e pela família de qualquer emoção forte, condena a filha preferida, justo ela, a única que não veio visitá-lo. Em silêncio, torce para que seja castigada.