Maria Adelaide Amaral ficou conhecida por seu trabalho como autora de telenovelas e peças de teatro. Mas também escreveu romances instigantes, a exemplo de Aos meus amigos, lançado em 1992 e que acaba de ganhar nova edição.
O livro faz um retrato da geração que viveu as décadas de 1970 e 1980 e que, no início dos anos 1990, deparou-se com a frustração dos ideais cultivados na juventude, o avanço da aids, a queda do Muro de Berlim e a primeira eleição pós-redemocratização.
Em 2008, o romance ganhou uma bem-sucedida adaptação para a TV, em formato de minissérie, com o título de Queridos amigos.
Nascida em 1942 na vila de Alfena, região metropolitana do Porto, em Portugal, Maria Adelaide Amaral se mudou aos 12 anos para São Paulo, onde vive desde então.
Jornalista, é autora de mais de 20 peças teatrais, além dos romances Luísa, O bruxo e Estrela nua. “Escrevi boa parte das minhas peças de teatro nas redações da editora Abril, com os colegas conversando, telefones tocando e o martelar incessante das máquinas de escrever.”
“Mas para escrever uma telenovela, necessito de silêncio”, diz a autora, que trabalhou na TV Globo por 32 anos.
Ela revela ainda algumas de suas “obsessões literárias”: de Eça de Queiroz a Simone de Beauvoir; de Proust a Lawrence Durrell; de Henry Miller a Jorge Semprun. “Lia toda a obra, as biografias existentes e correspondência disponível.”
E mesmo com uma trajetória longeva e consagrada, diz ainda ter “todas as incertezas” quando escreve. “A primeira é: a quem esse livro vai interessar?”
• Quando se deu conta de que queria ser escritora?
Sempre quis ser escritora, mas a confirmação de que eu poderia realmente ser aconteceu quando escrevi A resistência (1974), minha primeira peça de teatro.
• Quais são suas manias e obsessões literárias?
Felizmente tive muitas obsessões literárias ao longo da vida. De Eça de Queiroz a Simone de Beauvoir. De Proust a Lawrence Durrell, de Henry Miller a Jorge Semprun, lia toda a obra, as biografias existentes e correspondência disponível.
• Que leitura é imprescindível no seu dia a dia?
Uma boa biografia ou um bom livro de ficção.
• Se pudesse recomendar um livro ao presidente Lula, qual seria?
O príncipe, de Maquiavel.
• Quais são as circunstâncias ideais para escrever?
Quando estou motivada, as condições interiores sempre são mais importantes do que as circunstâncias exteriores. Escrevi boa parte das minhas peças de teatro nas redações da editora Abril, com os colegas conversando, telefones tocando e o martelar incessante das máquinas de escrever. Mas para escrever uma telenovela, necessito de silêncio.
• Quais são as circunstâncias ideais de leitura?
Leio em qualquer lugar, desde que tenha luz suficiente para tornar a leitura legível.
• O que considera um dia de trabalho produtivo?
O dia em que escrevo uma boa cena de um romance ou de uma peça de teatro. Quando escrevia novelas e minisséries, um dia produtivo era aquele em que eu conseguia escrever 20, 25 ou 35 páginas do capítulo que iria ao ar.
• O que lhe dá mais prazer no processo de escrita?
Quando as personagens falam por sua voz e impõem a sua história.
• Qual o maior inimigo de um escritor?
A dispersão.
• O que mais lhe incomoda no meio literário?
Não frequento muito o meio literário, mas tenho grande prazer em conversar com escritores, principalmente sobre literatura.
• Um autor em quem se deveria prestar mais atenção.
Isabela Figueiredo, uma notável escritora portuguesa.
• Um livro imprescindível e um descartável.
É imprescindível ler a obra poética de Fernando Pessoa. Os livros descartáveis já descartei.
• Que defeito é capaz de destruir ou comprometer um livro?
Excesso de opinião e clichês de modo geral.
• Que assunto nunca entraria em sua literatura?
Ficção científica.
• Qual foi o lugar mais inusitado de onde tirou inspiração?
Cemitério do Araçá [em São Paulo].
• Quando a inspiração não vem…
A gente se senta e escreve. Inspiração vem com a prática e o trabalho de escrever.
• Qual escritor — vivo ou morto — gostaria de convidar para um café?
Isabela Figueiredo.
• O que é um bom leitor?
É aquele que se envolve com a história e confere existência humana aos personagens da ficção.
• O que te dá medo?
Tantas coisas. A começar pela minha insegurança.
• O que te faz feliz?
Um bom livro, um bom filme ou uma peça de teatro com bons atores e conflito dramático envolvente.
• Qual dúvida ou certeza guiam seu trabalho?
Tenho todas as incertezas quando escrevo. A primeira é: a quem esse livro vai interessar?
• Qual a sua maior preocupação ao escrever?
Não temer o abismo e mergulhar fundo por mais que seja doloroso — e quase sempre é.
• A literatura tem alguma obrigação?
A de ter qualidade literária e ser consequente.
• Qual o limite da ficção?
Não há limites para a imaginação.
• Se um ET aparecesse na sua frente e pedisse “leve-me ao seu líder”, a quem você o levaria?
Ao dr. Drauzio Varella.
• O que você espera da eternidade?
Se ela existir, gostaria de reencontrar Caio Fernando Abreu, Hilda Hilst, Lygia Fagundes Telles e todos os amigos da literatura e do teatro que já partiram.