Poemas de Langston Hughes

Leia os poemas traduzidos "O negro fala dos rios", "Quando Sue veste vermelho", "Bilhete do suicida", "Cruz", "Tambor" e "Silhueta"
Langston Hughes, poeta norte-americano
01/06/2024

Tradução e seleção: André Caramuru Aubert

The negro speaks of rivers

I’ve known rivers:
I’ve known rivers ancient as the world and older than the flow of human blood in human veins.

My soul has grown deep like the rivers.

I bathed in the Euphrates when dawns were young.
I built my hut near the Congo and it lulled me to sleep.
I looked upon the Nile and raised the pyramids above it.
I heard the singing of the Mississippi when Abe Lincoln went down to New Orleans, and I’ve seen its muddy bosom turn all golden in the sunset.

I’ve known rivers:
Ancient, dusky rivers.

My soul has grown deep like the rivers.

O negro fala dos rios

Conheci rios:
Conheci rios tão antigos quanto o mundo e mais velhos que a correnteza de sangue humano nas veias humanas.

Minha alma tornou-se profunda como os rios.

Banhei-me no Eufrates quando eram jovens as auroras.
Ergui minha cabana junto ao Congo e ele me embalou até dormir.
Contemplei o Nilo e construí pirâmides sobre ele.
Ouvi as canções do Mississippi quando Abe Lincoln foi a New Orleans, e vi o seio barrento do rio dourar ao pôr do sol.

Conheci rios:
Antigos e empoeirados rios.

Minha alma tornou-se profunda como os rios.

When Sue wears red

When Susanna Jones wears red
Her face is like an ancient cameo
Turns brown by the ages.

Come with a blast of trumpets,
Jesus!

When Susanna Jones wears red
A queen from some time-dead Egyptian night
Walks again.

Blow trumpets, Jesus!

And the beauty of Susanna Jones in red
Burns in my heart a love-fire sharp like pain.

Sweet silver trumpets,
Jesus!

Quando Sue veste vermelho

Quando Susanna Jones veste vermelho
Seu rosto fica igual a um antigo camafeu
Oxidado pelo tempo.

Venha com uma explosão de trombetas,
Jesus!

Quando Susanna Jones veste vermelho
Uma rainha de alguma ancestral noite egípcia
Volta a andar.

Sopre as trombetas, Jesus!

E a beleza de Susanna Jones em vermelho
Queima em meu coração um amor que incendeia como a dor.

Doces e prateadas trombetas,
Jesus!

Suicide’s note

The calm,
Cool face of the river
Asked me for a kiss.

Bilhete do suicida

O rosto calmo
E tranquilo do rio
Me pediu um beijo.

Cross

My old man’s a white man
And my old mother’s black.
If ever I cursed my white old man
I take my curses back.

If ever I cursed my black old mother
And wished she were in hell,
I’m sorry for that evil wish
And now I wish her well.

My old man died in a fine big house.
My ma died in a shack.
I wonder where I’m gonna die,
Being neither white nor black?

Cruz

Meu velho era branco
Minha velha mãe, negra.
Se algum dia amaldiçoei meu velho
Recebi a maldição de volta.

Se algum dia amaldiçoei minha velha mãe
E desejei que ela estivesse no inferno,
Sinto muito por ter pensado o pior
Pois agora só lhe quero o melhor.

Meu velho morreu numa bela mansão.
Minha mãe, num barracão.
Fico pensando onde é que vou morrer,
Pois não sou branco nem negro.

Drum

Bear in mind
That death is a drum
Beating for ever
Till the last worms come
To answer its call,
Till the last stars fall,
Until the last atom
Is no atom at all,
Until time is lost
And there is no air
And space itself
Is nothing nowhere,
Death is a drum,
A signal drum,
Calling all life
To Come! Come!
Come!

Tambor

Tenha claro
Que a morte é um tambor
Batendo para sempre
Até que venha o último verme
Atender ao seu chamado,
Até que caiam as últimas estrelas,
Até que o último átomo
Nem mesmo átomo seja,
Até que se perca o tempo
E não haja mais ar
E que o espaço em si
Nada seja em lugar algum,
A morte é um tambor,
Um tambor que avisa,
Chamando todas as vidas
Para que venham! Venham!
Venham!

Silhouette

Sothern gentle lady,
Do not swoon.
They’ve just hung a black man
In the dark of the moon.

They’ve hung a black man
To a roadside tree
In the dark of the moon
For the world to see
How Dixie protects
Its white womanhood.

Southern gentle lady,
Be good!
Be good!

Silhueta

Elegante senhora sulista,
Não desmaie na rua.
Acabaram de enforcar um negro
Na escuridão da lua.

Enforcaram um negro
Numa árvore junto à estrada
Na escuridão da lua
Para que o mundo veja
Como Dixie[1] cuida bem
De sua feminilidade branca.

Elegante senhora sulista,
Seja gentil!

Nota
[1] Dixie era o apelido que os brancos sulistas davam ao país rebelde formado pelos estados confederados que tentaram se separar dos Estados Unidos para manter a escravidão. O apelido gerou mapas e canções, foi usado até bem dentro do século 20, e ainda hoje e usado por grupos supremacistas brancos.

Langston Hughes
O Harlem Renaissance foi o primeiro grande movimento de afirmação identitária negra nos Estados Unidos. Ocorreu em Nova York, no bairro do Harlem, mais ou menos entre 1918 e meados da década de 1930. Incluiu música, dança, romances e poesia, e pavimentou o caminho para muita coisa que veio depois, como a expansão do blues e do jazz e os movimentos de Martin Luther King e Malcom X. Langston Hughes (1902-1967) foi um dos principais poetas do movimento.
André Caramuru Aubert

Nasceu em 1961, São Paulo (SP). É historiador formado pela USP, editor, tradutor e escritor. Autor de Outubro/DezembroA vida nas montanhas e Cemitérios, entre outros.

Rascunho