Menina e moça

Conto de Paulo Franchetti
Paulo Franchetti, autor de “Memória futura”
01/01/2005

— Há quanto tempo está casada?, perguntou a mulher gorda.

— Quatro anos, respondeu a de vestido branco.

— Eu, há 15, disse a de camiseta cinza, e a sua voz soou um pouco estranha.

A de branco era jovem. A roupa, uma saída de banho, realçava os quadris e as pernas.

Tinha o cabelo amarrado por um laço. Entre o castanho e o ruivo, balançava sobre a gola e sobre as tiras retesadas do biquíni, e brilhava ao sol.

— Você vai ficar todo o feriado?, perguntou.

— Vou, respondeu a de cinza. E se levantou para apanhar alguma coisa sobre a mesa.

Usava uma calça de moletom. A camiseta tinha mangas muito largas. Movia-se com constrangimento, como se o corpo lhe doesse.

A mulher de branco disse algo para as duas crianças que brincavam. Levantando-se, apanhou a grande bola azul.

Chutava-a agora para o menino menor, que olhava, boquiaberto, o grande globo que subia reto e parecia flutuar, parado no alto, por momentos.

De perfil, a mulher de branco parecia muito bela.

A mulher gorda tinha um baldinho na mão esquerda. Mas, virando-se de lado, contemplava o jogo da bola azul, como todos, eu inclusive, contemplavam.

Era como se aquele dia tivesse existido para que ela pudesse, sob o olhar das duas crianças, dar aqueles passos cadenciados, para frente e para trás.

O menino maior finalmente acertou um chute com força. Caindo na água, a bola ficou girando, coberta com a fina capa de água, que a tornava ainda mais brilhante.

— E agora?, perguntou a mulher gorda.

— Agora eles vão ter de esperar que o pai deles venha tirar a bola daí, respondeu a de branco, enquanto limpava a boca do menor com a barra do vestido.

Em seguida, caminhou até a mesa e apanhou a mamadeira.

A mulher de cinza deu a volta na piscina. Olhou para a bola e para outras duas, que agora conversavam sobre a alimentação e a fome dos bebês.

Quando chegou perto da escada, despiu rapidamente a blusa e a calça de malha, que deixou cair sobre a grama, sem cuidado.

A pele, marcada de estrias, se acumulava em dobras na barriga, e era possível sentir o desgosto com que, de relance, olhava para as próprias pernas.

Desceu em silêncio pela escada, sem um movimento de tremor, enquanto mergulhava na piscina gelada.

Caminhou leve, dentro da água, em direção à bola. Apanhando-a, voltou e subiu pela mesma escada.

Pôs a roupa sobre o corpo molhado e, sem que as outras, de costas, percebessem o que houvera, aproximou-se do menino mais velho e lhe deu a bola.

Ele sorriu e disse “Mãe, olha!”

A mulher de branco disse “Ah, você pegou a bola!”. E agradeceu.

A mulher gorda e a mulher de cinza se olharam por instantes. E depois, quando o jogo recomeçava e a bola azul, ainda molhada, subia contra o céu cinzento, continuaram a conversa interrompida.

— Quinze anos? Puxa vida, disse a mulher gorda.

E a outra respondeu, olhando para a bola, que subia outra vez:

— Pois é…

Paulo Franchetti
Rascunho