Poemas de Almir Castro Barros

Leia os poemas "Só", "Imagens" e "De um sapato velho"
Almir Castro Barros, autor de “Um beijo para os crocodilos”
01/01/2005

Longe, um bombardino
Dói no som que o vento atrai
Até deixá-lo nessa porta
Entre alcatéias e o mar.

Olhar fixo na ardentia
E sem disfarce perante Deus
Amurado nos braços — chora.

Aos poucos
Insetos desmuralham lâmpadas
E em exéquias uns dos outros
Redescobrem a rua.

Imagens

Se calam os tormentos,
Sinto-me a vir de longe
Hóspede festejado.

Nomes,
Falam ou deixam rastros.
Tabique entre mim e o mundo
Interessa o anjo
Que me dá horta e vôo.

Então
Meu eito é ressonhar
Sossego, trens, neblina.

De um sapato velho

Com fôlego de léguas
Lavrei, fui a enterros,
Brilhei.

Agora, são meus vizinhos
Jornais amarelecidos
E uma carniça de cão.

Meu par — perdi. Só tenho vivo
A graminha que nasce no meu dorso.

Almir Castro Barros

Nasceu em Maraial, cidade da mata sul pernambucana, em 1945. É autor, entre outros, de Um beijo para os crocodilosO lugar da alma.

Rascunho