Poemas de Olga Sedakova

Leia os poemas traduzidos "Dedicado à memória de Ch.", "O anjo de Reims" e "Vento da despedida"
Olga Sedakova, poeta e tradutora russa
01/05/2024

Tradução: Astier Basílio

Посвящение Памяти Ш.

Когда набросками, наклонами
рисуют ветки на стене —
лучистыми, бледнозелёными
глазами кто ответит мне?

За ивами
или за кленами
свою высматривая синь,
лучистыми, бледнозелёными
глазами скажет мне: Аминь.
[2012]

Dedicado à memória de Ch.

Quando é que em esboços na parede
desenhos de uns arbustos haverá
e em um radiante e pálido verde
quem com os olhos me responderá?

Atrás de bordos
ou de salgueiros
seu próprio azul observando vem,
em um radiante e pálido verde
vai com seus olhos me dizer: amém.
[2012]

Ангел Реймса

Франсуа Федье

Ты готов? — улыбается этот ангел —
я спрашиваю, хотя знаю,
что ты несомненно готов:
ведь я говорю не кому-нибудь,а тебе,
человеку, чье сердце не переживет измены
земному твоему Королю,
которого здесь всенародно венчали,
и другому Владыке,
Царю Небес, нашему Агнцу,
умирающему в надежде,
что ты меня снова услышишь;
снова и снова,
как каждый вечер
имя мое вызванивают колоколами
здесь, в земле превосходной пшеницы
и светлого винограда,
и колос и гроздь
вбирают мой звук —

но все-таки,
в этом розовом искрошенном камне,
поднимая руку,
отбитую на мировой войне,
все-таки позволь мне напомнить:
ты готов?
к мору, гладу, трусу, пожару,
нашествию иноплеменных, движимому на ны гневу?
Все это, несомненно, важно, но я не об этом.
Нет, я не об этом обязан напомнить.
Не за этим меня посылали.
Я говорю:
ты
готов
к невероятному счастью?

O anjo de Reims

A François Fédier

Tu estás preparado? — ri aquele anjo —
Eu pergunto, embora eu mesmo saiba:
de modo que eu não pergunto a alguém, mas a ti,
pessoa, cujo peito não sobreviverá à traição
ao teu Rei aqui da Terra,
com quem a nação toda contraiu boda,
e ao outro Soberano,
Rei dos Céus, nosso Cordeiro,
o que morreu em esperança
para que novamente me ouças:
novamente, novamente
como em cada noite
o meu nome é chamado pelos sinos
aqui, na terra com excelência em trigo
e uvas luminosas
e vagens e cachos
a absorver o meu som.

Mas ainda assim,
nesta rosada pedra repicada.
a erguer a mão,
moída na guerra mundial,
ainda assim permita-me lembrar-te:
Tu estás preparado?
para a peste, a fome, o covarde, o incêndio,
a invasão dos que vêm de fora, a sacudir em nós a ira?
Tudo isto, sem dúvida, é importante, mas não falo disso.
Não, eu não falo do que é obrigatório lembrar.
Não foi para isto que me enviaram.
Eu digo:
tu
está preparado
para uma felicidade incrível?

Неужели, Мария, только рамы скрипят,
только стекла болят и трепещут?
Если это не сад —
разреши мне назад,
в тишину, где задуманы вещи.

Если это не сад, если рамы скрипят
оттого, что темней не бывает,
если это не тот заповеданный сад,
где голодные дети у яблонь сидят
и надкушенный плод забывают,

где не видно ветвей,
но дыханье темней
и надежней лекарство ночное…
Я не знаю, Мария, болезни моей.
Это сад мой стоит надо мною.
[1970]

Será mesmo, Maria, que na moldura é assim
só o rangido e os vidros estão doendo e se estalam?
Se este não é o jardim,
Me conceda permissão para
ao silêncio voltar, onde as coisas são criadas.

Se este não é o jardim e a moldura range assim
porque a escuridão aqui não criou hábito,
será que este não é o proibido jardim
onde famintas crianças a um pé de maçã sentam-se
e do fruto proibido não se lembram mais,

onde não se veem arbustos
mas o respirar do escuro
e é muito mais seguro o remediar da noite…
Eu não sei, Maria, qual a doença minha.
Este jardim que é meu por sobre mim se pôs.
[1970]

Ветер прощанья

Ветер прощанья подходит и судит.
Видит едва ли и слышит едва.
И, как не знавшие грамоте люди,
мы повторяем чужие слова:

об упокоении сущим и бывшим,
откуда же гнев отбежит и гроза,
и о страданье, глаза не открывшем,
о поруганье, закрывшем глаза.

И обо всем, чего мы не исполним,
чем и во сне не попробуем быть.
— Славно, — скажи мне, — что мы не запомним
и что тебя не сумеем забыть.

Славно любить это благо живое,
золото, пахнущее дождем.
Если ты боль — то и это с тобою,
если ты сад, где мы счастья не ждем.

Vento da despedida

Vento da despedida vem julgando e vem.
Talvez que nem enxergue, capaz que ouça pouco
e tal como as pessoas que não sabem ler
nós vamos repetindo o palavrear de outros.

A paz de ser autêntico e de ser passado
de onde recuarão a fúria e os relâmpagos
e sobre o sofrimento, de olhos que não abrem,
e sobre todo ultraje, de olhos se fechando.

E sobre tudo aquilo que nós não cumprimos
aquilo que num sonho nem tentamos ser.
Alegremente — diga — o que não lembraríamos
e aquilo que não ousas sequer esquecer

É glorioso amar, dourada e viva bênção,
cheirando a chuva e se tu fores dor tu hás
de estar a sós; e se fores jardim nós não
esperaremos lá pela felicidade.

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O TRADUTOR
Astier Basílio é poeta e dramaturgo. Atualmente, mora em Moscou (Rússia). Mestre em literatura russa pelo Instituto Estatal Pushkin e doutorando em literatura russa no Instituto de Literatura Maksim Gorki.

Olga Sedakova

Nasceu em 1949, em Moscou (Rússia), onde se formou em letras na Universidade Estatal Lomonosov. No período entre 1962 a 1967, seus poemas passaram a ser publicados em jornais como Pionerskaya Pravda, Komsomolskaya Pravda, Moskovskiy Komsomolets. O primeiro livro de Sedakova foi lançado em 1986, em Paris. Passou a ser editada na Rússia, em 1990, sob a vigência da Perestroika. Ao todo, já publicou 67 livros, nos gêneros poesia, prosa, literatura infantil, entre outros. Traduz do inglês, alemão, francês e italiano. É uma das maiores especialistas na obra de Dante Alighieri na Rússia.

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