O poeta César Leal é também um grande crítico literário. Desde a década de 50, consolida uma vasta obra. José Guilherme Merquior o definiu como o “poeta brasileiro mais preocupado com a teoria do poema”. Esta preocupação e a agudeza nos comentários podem ser comprovadas na oportuna reunião, em dois volumes, de seus ensaios — Dimensões temporais na poesia, com textos publicados em periódicos nos últimos 55 anos. Em trabalhos de grande fôlego, Leal adentra o universo ficcional de autores como Dante, Camões, Shakespeare, Fernando Pessoa, Jorge de Lima e Drummond, entre outros. “Os trabalhos desses poetas foram editados há muito tempo, mas o interesse por eles permanece vivo entre as melhores mentes de nosso tempo”, argumenta Leal na apresentação dos livros.
No primeiro volume, são 33 ensaios sobre 28 poetas, “inclusive Thomas Mann, que, embora não escreva versos, é tratado desse modo pelos alemães, que assim reverenciam ao modo da antiga Grécia os seus grandes escritores”, conforme explica o autor. O segundo volume é composto por quatro partes: a) As falas do poder poético; b) Crítica e história cultural; c) Artes plásticas e outros temas; e d) Breve antologia poética.
Para o escritor Fernando Monteiro, que acompanha a produção poética e crítica de Leal, este “se notabiliza, na cena literária brasileira, por ser um crítico de visão abrangente, fundada em bagagem, invejável, de mestre em teoria literária e erudito em questões tanto da cultura quanto da ciência”.
Monteiro lembra que Leal é também um poeta de ressonância metafísica, desde a publicação de Tambor cósmico (1978), distanciado alguns anos-luz da “atmosfera” cabralina. “Na dobra do tempo, sua poesia é digna de figurar ao lado da de Jorge de Lima, Emílio Moura, Joaquim Cardozo, Abgar Renault e outros grandes, que tomarão a sua dimensão verdadeira, um dia, quando a ‘mania’ nacional por João Cabral passar como as cheias, as ressacas e as febres”, afirma.