Poemas de Almir Castro Barros

Leia os poemas "Marcha", "Na voz de John Cage" e "De jornais"
Almir Castro Barros, autor de “Um beijo para os crocodilos”
01/02/2006

Marcha

Cansados de somar
já não dormem tanto
os donos de vinhedos.

Avança o fogo em procissão
nos devotos de glebas
e esquecidos frutos
sem rubor.

Eles exigem e fervem
como o amor sem uso
no fundo das entranhas.

Na voz de John Cage

Como nunca,
O ferro está florindo,
E desatar laços preciosos
É ordem.

Dependurei de mim numa aldrava fria:
— Só destroços há do serial método,
Contra um coração que não aceita
Ordem.

No futuro,
E tudo, e nenhum, eu leio no alvoroço
— Não há na Travessa achada
Número de porta que me deram.

De jornais

Os dias que correm nada sabem
De um condado em folguedo.

Consomem seu destino
Nos sacudindo à dor e a ermos
De nenhum — ou escasso —
Fado.

Neles,
A casa se perdeu
Ao troar de morteiros.

E move-nos ler de suicidas:
— Na rua está o céu, pelo menos,
À mira do qual nos guardamos
Vivos,
Ou morremos…

Almir Castro Barros

Nasceu em Maraial, cidade da mata sul pernambucana, em 1945. É autor, entre outros, de Um beijo para os crocodilosO lugar da alma.

Rascunho