Mais conhecido na Itália e em outros países do mundo como poeta, tendo vencido importantes prêmios literários com seus primeiros versos, Roberto Pazzi aterrissa no Brasil com um romance (Conclave), que é o gênero mais cultuado pelas bandas de cá. E já que por estas terras existem também leitores mais curiosos, seria interessante alguma editora se arriscar a traduzir uma de suas obras poéticas, como Il filo delle bugie, por exemplo.
A cada eleição de um novo papa chegam até nós, coitados brasileiros, a maior parte católica, apostólica e acima de tudo, romana, somente os minguados decibéis dos ecos dos resultados das votações. De vez em quando, sem sequer sabermos a organização de um conclave, vemos via satélite uma chaminé: fumaça branca significa habemus papam. Fumaça negra: ainda não chegaram a um consenso. Cento e poucos cardeais escolhem aquele que será o maior guia espiritual dos cristãos, valendo-se para tanto de rituais milenares.
Entre a morte de um papa e a escolha de outro, a igreja é comandada pelo camerlengo, um Santo Padre interino, que é, dentre todos os que constituem a assembléia, o que tem menos chance de se tornar sucessor de São Pedro. Por esta razão julga-se que seu trabalho seja imparcial.
Conclave narra-nos os meandros da seleção de um novo papa. Por ser uma obra de ficção, Pazzi abusa de elementos fantásticos — durante a reclusão dos cardeais, a Capela Sistina é atacada por ratos, escorpiões e morcegos. Alguns prelados morrem misteriosamente (inclusive um cardeal carioca), outros celebram rituais de magia negra e conversam com mortos enquanto tomam seus banhos turcos. Há aqueles que questionam sua fé enquanto são pressionados pelos líderes mundiais para que escolham logo o sumo pontífice.
Em meio à desordem, o narrador, o enigmático papável Ettore Malvezzi, descreve com minúcias as estratégias de seus colegas. Grupos se unem contra a candidatura dos italianos, as jogadas políticas e econômicas são relatadas como parte corriqueira de um conclave. Enquanto isso, a ala tradicional se vê dividida entre o preceito de se selecionar um papa por inspiração do Espírito Santo e a vontade de terminar logo com essas tarefas divinas e voltar ao contato com o mundo exterior.
Pazzi nos delicia com uma narrativa refinada, embora não chegue a ser um sucessor à altura de Italo Calvino, como alardeiam os críticos italianos.