Boaventura Cardoso é um dos mais importantes escritores da literatura angolana. E no romance Margens e travessias, o protagonista é justamente o povo de Angola. O escritor, de forma ficcional, conta a história da formação de seu paÃs. Para isso, serve-se das lembranças de Kitekulu, um soba (chefe tradicional), e Manimaza, filho das águas. Suas conversas acontecem enquanto percorrem os rios de Angola e suas aldeias ribeirinhas, de forma que os fatos e mitos do paÃs, desde os tempos pré-coloniais até o perÃodo pós-independência, chegam ao leitor pelas vozes das personagens do romance. Histórias contadas pelas personagens, troca de mensagens e cartas entre o soba, chefe de uma Zona de Acção, e o Comissário Distrital, relatos de uma mãe à espera de seu filho, e as lembranças e conversas entre Kitekulu e Manimaza formam o panorama da história de Angola. Os rios e suas margens não são meros acidentes geográficos. São fios condutores das vivências e narrativas das personagens. A dinâmica da narrativa acontece conforme os rios se formam e são percorridos pelas personagens.